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CARCARÁ-NEGRO - ATOS DE GUERRA 4 - PESADELO VIVO PARTE 2

 

Fala pessoal!

 

Essa é a continuação do pesadelo vivo que o Carcará-Negro está vivendo. Recomendo a leitura da primeira parte, para que o texto faça sentido. Inicialmente minha intenção era lançar tudo numa parte só, porém acabou demorando muito e resolvi postar o pedaço já pronto. Foi um pouco complicado escrever essa parte da história, acabei me apegando aos personagens.

 

Um abraço e boa leitura.

 

Jeremias Alves Pires

 

Sinopse

 

O Carcará-Negro foi surpreendido pela aparição da forma psíquica de Princesa, a garota que conheceu em uma ONG, a qual ele suspeitava ter sido vítima de abuso. A entidade  insere suas lembranças terríveis na mente do Carcará-Negro, jogando-o em pesadelo onde ele é a vítima...

 

Carcará-Negro – Voo 7

 

 

ATOS DE GUERRA 4

 

 

Pesadelo Vivo – Parte II

 

 

 Veio o último dia. Veio sem presságios, como se uma força do alto, incapaz de evitar as atrocidades que estavam por vir, quisesse dar uma compensação, memórias alegres de um dia ensolarado, cheio de sorrisos e abraços, pra quem sabe servir de acalanto para todas as chagas que se abririam naquela alma inocente.

 Estavam vivendo debaixo de uma ponte em uma barraca, que para ele, com seu olhar inocente parecia uma brincadeira divertida, foi isso que sua mãe lhe disse. Ela não gostava de Vê-lo triste, então contava histórias que amenizavam os sofrimentos pelos quais passavam.

 

 

 — Olha, meu filho... Isso aqui é temporário... Um dia vamos ter uma casa daquelas bonitas, com quintal pra você brincar... Brinquedos novos...

 

 

— Nossa, mamãe... Que legal... Eu também vou tomar café da manhã todos os dias, com pão e bolacha? EU VOU PODER IR PRA ESCOLA? COM UNIFORME E TUDO?

 

 

—Vai sim, filho...

 

 

Não deixou de notar que a mãe derramou uma lágrima depois de beijá-lo. Ficou se perguntando se era culpa dele. O que será que tinha dito para magoá-la? Resolveu não perguntar. O dia tinha sido maravilhoso. Graças a uma ONG, tinha comido bem, ganhado uma bola amarela como sol. Não saíram para caçar tesouros. Brincaram a tarde toda em um parque, para voltar somente à noite para o “castelinho”. Não iriam passar tanto frio, já que tinham ganhado cobertores. Ficou um tanto chateado, afinal de contas o frio não era incômodo para ele.

 

 

— Frio, meu filho... É só a oportunidade da gente se abraçar bem forte, pra ficar bem quentinho...

 

 

— Sempre se lembrava dessa frase, que como tantas outras que a mãe lhe dizia fazia tudo ficar mais fácil, belo...

 

 

 Abraçou a mãe sem saber que era a última vez. Estava sonhando com a casa nova, com uma xícara com leite quentinho, pão com manteiga e algumas bolachas, para ele um verdadeiro banquete, a última ceia. A mãe pedia para ele tomar cuidado para não sujar o uniforme da escola.

 

 

— Não… Me solta!!! - O grito da mãe o despertou para o pesadelo…

 

 

Violentamente foram arrastados para fora do "castelinho", por homens vestidos de preto dos pés a cabeça, parecendo mais espíritos malignos que seres humanos.  Teve o grito abafado por um pano que o fez cair em uma escuridão plena como nunca havia sentido antes…

 

 

- Despertem as oferendas!!!

 

 

Foi acordado com um banho de água extremamente fria. Estava nú. Mãos e pés amarrados. Diante dele havia um homem vestido de monge, com uma máscara de javali, fazendo um som grotesco que o fazia gritar de pavor. Olhou em volta procurando a mãe, chorava muito, a voz não queria mais sair, o coração batia tão forte que fazia o peito doer. Estava em um tipo de templo. A mãe estava ao lado dele igualmente amarrada, igualmente em desespero profundo.

 

 

- Por favor… Deixem meu menino ir… Deixem meu menino ir… - A mãe gritava, temerosa mais pela vida do filho do que dá sua...

 

 

- Mamãe!!! - Finalmente a voz saiu…

 

 

- Mais, mais… Façam eles gritarem mais… Alimentem nosso Deus Fera!!!!

 

 

Um homem que parecia ser o líder, ordenava, regendo a sinfonia de horrores daquele recanto de sofrimentos indizíveis. Usava um terno preto elegante e escondia seu rosto com uma máscara branca.  O templo estava lotado. Os filhos do Deus Fera estavam em êxtase. Todos vestidos com roupas de festa, muito caras, ocultos em suas máscaras animalescas, assustadoras, que revelavam na verdade o interior de suas almas grotescas. A estátua do Deus Fera, um gigantesco gárgula de olhos vermelhos brilhantes, encarava seus fiéis, sedento pelo sofrimento dos inocentes capturados nas ruas. Pessoas das quais ninguém sentiria falta, ou até se alegrariam com a ausência do mesmo modo que alguém se sentiria feliz ao ver lixo fedorento sendo levado para o mais longe possível. Eram cerca de vinte ou trinta inocentes. Expostos no altar como que para venda e abate…

 

 

- Ouçam… Filhos da fera… Nós somos a elite. Donos desse mundo, desses desgraçados, cuja existência serve o único propósito de satisfazer cada um de nossos desejos, seja ele carne, seja ele sangue… É NOSSO DIREITO DIVINO… DADO PELO NOSSO SENHOR… DEUS FERA!!!!

Os fiéis saudaram seu Deus emitindo os sons das feras de suas almas imundas.

 

 

- Que os escolhidos de hoje se apresentem ao nosso Deus… - Ao comando do mestre da cerimônia sombria um fiel para cada coitado amarrado se aproximou do altar.

 

 

- Deus Fera! Deus Fera! Nos liberte… Nos livre da razão… Deixe só a emoção… Que sejamos feras… Sem regras… Liberte-nos… Liberte-nos… - Os fiéis cantavam.

 

 

Os homens de preto que haviam feito os sequestros, trouxeram carrinhos repletos de tudo que fosse capaz de causar dor, martelos, facas, serrotes, havia de tudo. Os objetos foram derrubados no altar.

 

 

- Agora… Satisfaçam seus desejos para que nosso Deus se deleite com nosso prazer…

 

 

Tudo ficou nublado, as lembranças do que houve ali eram cruéis demais para que a mais poderosa das mentes pudesse suportar…Sentiu o corpo ser rasgado, perfurado, violado… O cheiro forte de sangue ficaria eternamente entranhado em seu nariz, o sons dos próprios gritos, misturado aos dos outros e de “mamãe”, não sairiam nunca mais dos ouvidos.

 

 

— Que não haja segredo entre nós e nem com nosso Deus…

 

 

O líder ordenou e todos tiraram suas máscaras. Ele pode ver claramente o rosto do líder maligno. Já o tinha visto em algum lugar. Era belo como um anjo, olhos castanhos brilhantes como a pele branca e macia, tinha um sorriso doce de dentes perfeitos, cabelos castanhos penteados para trás, muito bem tratados. 

 

 

— Acalme-se, criança! Logo vai acabar… Você serviu bem a seu destino de nos proporcionar prazer e alimentar o Deus Fera… - Disse o líder de forma gentil, cheio de bondade.

 

 

— Por favor… Deixe meu filho ir… - Mamãe se esforçou para salvá-lo. Seu rosto estava irreconhecível, ela agonizava numa poça do próprio sangue.

 

 

— Deem um jeito nessa miserável a voz dela me irrita…

 

Seguindo as ordens do líder, um carrasco se aproximou com uma marreta e desferiu o derradeiro golpe em mamãe,estourando sua cabeça.

 

 

— Não… Desgraçados… Eu vou acabar com todos vocês… Eu juro!!! - Ele gritou, com uma dor na alma mais profunda do que a dor que haviam infligido ao seu corpo.

 

 

Todos riram. O carrasco se aproximou para dar fim a sua vida. Uma espécie de onda de impacto jogou o carrasco longe, foi possível ouvir o som de seus ossos sendo quebrados. Ninguém mais riu… O líder se pronunciou.

 

 

— Nossa… Quem diria… Temos um neo humano entre nós…

 

 

O líder tirou a roupa…

 

 

— Vamos lá…Me mate… Satisfaça o meu deus… VINGUE-SE AGORA!!!

 

 

O pequenino podia ter feito todos ali em pedaços com os poderes recém despertados, mas o medo era muito maior que seu ódio, Seus ferimentos também exauriam suas forças. Atingiu o líder com uma leve brisa. Mais gargalhadas tomaram o recinto.

 

 

— Vejam… Mesmo com poderes a escória é impotente contra nós. Somos intocáveis!!! - o líder gritou e foi ovacionado.

 

 

— Eu vou… Eu vou.. - o pequenino gaguejou.

 

 

— Você não vai fazer nada… Você e sua raça não são nada. Acha que alguém liga pra você? Que vão acreditar em você? Pois bem, pode ir… Passe o resto da sua vida com medo e cheio de pesadelos por tudo que aconteceu aqui… Joguem esse lixo de volta nas ruas. Nada temos a temer desses seres imundos. Nosso deus também gostou do sofrimento dele…

 

 

O Carcará-Negro despertou do pesadelo que havia sido lhe imposto. Estava caído no chão, chorando, totalmente arrasado.

 

 

— Mãe… Mamãe… - Olhou para os lados, estava mais uma vez em seu esconderijo.

 

 

Não conseguia se levantar, nunca tinha sentido aquele tipo de emoção, não sabia o que fazer.

 

 

— Cristovão… Seu inútil, eu quero dormir… Pode assumir o controle… Pode assumir o controle para sempre… Cris?

 

 

Houve silêncio, nunca havia silêncio. A personalidade de Cristóvão não existia mais. Como era possível?

 

 

— Eu vou pegar… Vou pegar todos… - o Carcará jurou para escuridão…

 

 

 

 

Continua…


4 Comentários

  1. Uou! Extremamente pesado e fazendo totalmente sentido pelo histórico do Carcará...
    Representou muito bem o que algumas pessoas com mais posses pensam daqueles que não tem nada.
    A construção do relacionamento mãe/filho ficou perfeito tbm...
    Meus parabéns!

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  2. Valeu, meu amigo... Pensa num texto duro de terminar... kkkk

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  3. O que dizer ,prezado Jeremias ?

    Aplausos e mais aplausos!

    Ao bestializar de modo contundente a elite que se satisfaz em perpetuar o sofrimento dos menos favorecidos , com abusos de toda a ordem, você fez uma crítica social contundente e avassaladora!

    Bestas Feras!
    Sedentas de sangue e prazer.

    Sem palavras !

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  4. Valeu... É como eu vejo quem abusa de pessoas... Quem sabe a Mindstorm não se torne um farol paras próximas gerações?

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