1. O Início
Depois de muitos avanços na tecnologia e consolidação das principais fontes de renda da humanidade, a luta agora era para provar qual nação tinha a tecnologia mais avançada.
Depois do desastre econômico em 2919, poucos países conseguiram se manter firmes e não falir.
O primeiro a cair foi um dos países menos óbvios: Estados Unidos. Após uma crise sem precedentes e uma briga quase física pela presidência do país, duas facções o dividiram e fizeram o surgimento de dois novos países: Estados da União e Estados Confederados, com uma enorme alusão à Guerra de Secessão, que pensou ter sido findada há séculos, mas a semente de uma nova guerra ainda estava ali, esperando para desabrochar.
Após incontáveis desastres na Europa, os antigos “países de terceiro mundo” estavam por cima, e a organização mais poderosa era a BRICS. A Rússia foi substituída pela Romênia, anteriormente um país de pouca expressão, mas que rapidamente conseguiu vencer graças à sua Microbiologia.
Depois da 20ª onda do Coronavírus, após tantos anos oculto, a Romênia conseguiu vencê-lo rapidamente graças à sua alta tecnologia médica.
E o país mais rico tornou-se, ironicamente, o Brasil.
Não por ser o país que melhor se desenvolveu no período, mas sim, o que se tornou o país mais estável, e resolvendo algumas de suas carências mais críticas, conseguiu ascender e tornar-se o país mais rico.
E graças ao avanço absurdo da tecnologia espacial e de controle do tempo e espaço, era dada a hora de iniciar a terraformação de Marte. As naves espaciais já não eram tão enormes e não precisavam de tanto espaço para içar voo, os humanos haviam se tornado acostumados ao espaço. Não iam tão longe por causa da falta de tecnologia, mas dentro de seu sistema solar já havia tomado planetas como Marte, Vênus e Ceres, mas nunca os tornado habitáveis.
Acreditava-se que Vênus seria mais complicado de se terraformar, devido às suas condições climáticas, por isso começaram o projeto por Marte, por ser mais parecido com a Terra neste aspecto.
Eduardo era um astronauta brasileiro, extremamente experiente, com várias viagens no catálogo. Vinculado à AEB, (organização brasileira análoga à NASA, que ganhou muita força nos últimos 70 anos) ele fazia questão de treinar todos os dias, mesmo que sua mulher, Clarissa, reclamasse por causa disso. Ele era muito dedicado e sabia que estava prestes a presenciar a história e a escrever seu nome nela.
E de fato ele estava certo.
Um ônibus espacial fora montado pela AEB, a ser lançado de Juiz de Fora, MG, dada a órbita de Marte na data a ser agendada para a decolagem. A agência demorou muito para construir, mas quando terminou, os preparativos para a sua decolagem foram imediatos.
Uma tripulação de tamanho nunca presenciado – afinal de contas, as tripulações nunca passavam de 10 pessoas por vez, e esta continha 50. Toda a hierarquia fora bem observada, e Eduardo sabia da suma importância que o seu papel era, o de levar a todos a Marte.
A decolagem estava marcada para o dia 07/09, alusão feita para o feriado da Independência Brasileira, mesmo que houvesse passado mais de 1400 anos desta data.
Uma festa prolongada se fez quando foi anunciada a decolagem, com toda a tecnologia angariada pelo país tupiniquim. E agora, que ela era real, Eduardo estava ansioso.
Estava vestido com o seu uniforme de decolagem, o que antecedia o traje espacial.
Sentou-se em sua cadeira de piloto, e começou a operar os difíceis equipamentos de navegação, ajustando toda a questão de climatização e gravidade dentro da espaçonave. Ninguém sentiu quaisquer alterações, afinal de contas, ainda estavam dentro do planeta e a gravidade dele se fazia presente.
Foi quando deram a ordem para preparar-se para a contagem regressiva. O embarque de todos já havia acontecido e estavam todos em suas poltronas, tudo configurado para ser o mais perfeito possível.
Foi aí que veio a contagem regressiva.
Após o término, o ruído característico dos motores de propulsão se fez presente, mostrando que a nave estava decolando. Tratava-se do primeiro estágio da Terraformação, a instalação dos equipamentos que iriam mudar o clima do planeta, acelerando seu tempo para que evoluísse em, no máximo, 20 anos, o que demoraria 20 mil anos, e desacelerando para não causar nenhum problema depois.
Subiram rapidamente pelos céus, e poucos minutos depois, a espaçonave já estava fora da nossa atmosfera. Os outros tripulantes nada sentiram, afinal de contas, com a pressurização e a geração de gravidade, o ambiente foi mantido como se eles estivessem ainda na Terra.
Eduardo emocionou-se, igual a todas as vezes que viajava pelo espaço sideral. Amava o que fazia, e não deixava de se emocionar ao pensar em todas as vezes que realizava seu sonho. Ativando o motor de navegação espacial e desligando o motor de arranque para decolagem, a velocidade da espaçonave aumentou drasticamente, causando um leve empuxo, mas nada demais.
Marte estava mais próximo da Terra, o que significaria que a viagem duraria no máximo 20 minutos. Todas as possíveis rotas foram traçadas, e as possíveis colisões evitadas.
Eduardo viu o planeta vermelho agigantar-se no monitor da nave, que não usava mais visores, mas sim, câmeras de alta resolução blindadas, menos suscetíveis a impactos desnecessários. Estava a pouco mais de 10 mil quilômetros da atmosfera marciana, e aquele vermelho terroso sempre lhe chamava a atenção.
Começou os processos para adequar-se à órbita marciana, e quando conseguiu, começou a configuração do processo de aterrissagem. Como a gravidade de Marte é 1/3 da terrestre, era muito mais simples manobrar a nave e fazer o posicionamento dela.
Todos ficaram maravilhados com a cor vermelho-terrosa do solo marciano, e ao descer, viram aquele panorama parecido com o terrestre. Aquilo os maravilhou.
Foi quando foi possível sentir o primeiro baque.
O primeiro pouso.
A primeira equipe já se levantava e se dirigia para os provatórios, para vestirem seus trajes espaciais e, dentro dos veículos terrestres, partirem para a construção do primeiro gerador terraformador e de aceleração do tempo – este último passaria pelo primeiro teste a entender se funcionaria ou não.
Depois de um dia inteiro aguardando a primeira equipe a sair da espaçonave, Eduardo ficou pensando em mandar uma mensagem para a esposa, afinal de contas, o satélite que rondava o planeta vermelho lhe dava internet de alta velocidade e comunicação quase instantânea com a Terra.
Embora o sinal não fosse tão bom, afinal de contas, o satélite estava DO OUTRO LADO DO PLANETA.
Na Terra, o telefone de Clarissa tocou. Ela levantou-se e, lentamente, foi pegando o telefone. Pela música que tocava ela sabia de quem se tratava.
Era Eduardo.
- Já chegou em Marte, Eduardo? – Perguntou Clarissa de maneira seca. Era normal ela comunicar-se com o marido naquele tom, mesmo que ele estivesse a centenas de milhares de quilômetros de onde ela estava.
- Bom dia para você também, Clarissa. Achei que você tivesse sentido a minha falta.
- Quando você não sente a minha, vive enterrado nesse seu trabalho... Parece que o reconhecimento da AEB é mais importante que o meu... Mas enfim... Tá tudo bem com você?
- Tá sim, obrigado por perguntar. Desculpe se estou tentando trazer um futuro para todos nós. E o trabalho? Como está?
- Tenho conseguido vencer cada vez mais casos... O escritório está me dando cada vez mais casos maiores, daqueles que aumentam a reputação deles. Acho que, em breve, vou ser convidada para ser sócia dos donos do escritório. E, talvez, aconteça o que eu venho lutando há tanto tempo...
- Você montar seu próprio escritório. Sim. Parabéns pela sua luta, amor.
Com a resposta menos fria, Clarissa não se furtou a sorrir do outro lado da videochamada.
- E como são as coisas aí em Marte, hein?
- Veja você mesma... – E Eduardo inverteu a câmera do celular, mostrando a ela uma imensidão de terra vermelho-terrosa, mas com uma atmosfera muito, mas muito similar à da Terra.
- É incrível. – Respondeu ela às imagens.
- Agora você entende o porquê de eu gostar tanto do que faço? – Perguntou Eduardo, apaixonado pelo que fazia.
- Eu sempre entendi. Só que você poderia voltar um pouco mais para casa, não? Poderíamos sair juntos, ir em alguns lugares... O nosso problema não é falta de dinheiro. Você é um Engenheiro Espacial bem-sucedido, eu sou uma Advogada também bem-sucedida... E nós sequer temos filhos!
Eduardo levantou a sobrancelha esquerda.
- Não foi você quem dizia que ter filhos era perda de tempo, e que o desenvolvimento de nossas carreiras era o melhor a ser feito?
- Eu sei disso, meu anjo... Mas eu vejo todas as minhas amigas, também advogadas, todas bem-sucedidas também, mas mães... Seus maridos lhe dão o suporte necessário para tudo... E só nós dois não temos!
- E eu não estava por perto para perceber essa sua mudança.
- Sim... Mas isso pode mudar, não é?
- Com certeza pode. Depois dessa minha missão, eu posso pedir um tempo para poder descansar e nós podemos cuidar disso. O que acha?
Clarissa sorriu com a proposta. Aquela resposta era o suficiente para ele.
- Então está combinado. Pedirei uma licença para nós cuidarmos disso. Por enquanto, meu tempo está acabando... Nós temos apenas alguns minutos por dia para nos comunicarmos com as nossas famílias... E você é tudo o que eu tenho.
- E você é tudo o que eu tenho também. Te amo.
- Também te amo.
E Eduardo desligou a ligação feita pelo aplicativo mais popular de videochamadas da época. Tratou de seguir em direção aos engenheiros responsáveis pela terraformação de Marte, que já haviam preparado o terreno onde as máquinas seriam instaladas.
- Hey, Eduardo... Já falou com sua esposa? – Perguntou Gérson.
- Já, mano. Finalmente consegui acalmá-la um pouco.
- E o que era? – Perguntou Gérson, curioso. Ele e Eduardo eram bastante próximos.
- Ela quer um filho, acredita?
- Não creio. Ela, que sempre disse que a carreira era mais importante?
- Pois é. Parece que a convivência com os ex-colegas de faculdade dela fizeram com que ela mudasse de ideia.
- E você, o que vai fazer?
- O mais sensato... Depois dessa missão, pedir uma licença... Eu tenho umas 5 vencidas. Eles não vão me negar se eu pedir agora.
- Concordo... Você vem trabalhando que nem um louco para essa missão... E você, como piloto, já fez o seu trabalho, que era nos trazer pra cá. Agora é a nossa vez de trabalhar.
Foi quando os dois escutaram uma explosão.
Sem proferirem uma única palavra, saíram correndo em direção à origem do som, e lá estava, uma coluna de fumaça, justo no lugar onde estava, minutos antes, todo o equipamento de terraformação. E, à frente dos Engenheiros de Construção, estavam aqueles que os terráqueos acreditavam ser um mito.
Marcianos. Vida inteligente.
Ao contrário do que se pensava a respeito deles, não tinham pele esverdeada, mas sim, avermelhada. Fazia muito sentido com toda aquela terra vermelha que havia no planeta.
Eles falavam uma língua que puxava muito da garganta, sons guturais que eram, em um primeiro momento, ininteligíveis. Os Engenheiros Linguistas, ainda dentro da nave, tentavam traçar um padrão com todo o áudio que recebiam daquela situação insalubre. E essa nem era a missão deles, a real missão era manter todos aqueles Engenheiros comunicando-se uns com os outros a nível nativo, mesmo que alguns deles não falasse uma grama de Português.
A primeira coisa que os Engenheiros Linguistas entenderam foi o tom claro de ameaça, e os moderadores terráqueos tentavam, em tom conciliador, entender o que estava acontecendo. A mensagem enviada foi que era crível que o planeta era desabitado, isso por milênios.
Mas não havia resposta. A única resposta era a de alguns ‘soldados’ no front empurrando os Diplomatas para dentro da nave principal, onde Eduardo e Gérson estavam, em um claro sinal de expulsão.
Vendo que os terráqueos não cediam, que tentavam conversar a todo custo, era hora de conversar mesmo. Um dos marcianos que estavam mais atrás nas fileiras de guerreiros se aproximou de um dos Engenheiros Linguistas e espalmou algo parecido com uma mão, e logo este Engenheiro começou a ter convulsões. Logo, com as pupilas e as írises viradas quase em sua totalidade para dentro da cavidade ocular, a mensagem começou a chegar.
“Não queremos dividir nosso mundo com vocês. Queremos que saiam, queremos que vão embora. Depois de nos acalmarmos, mandaremos alguém para conversar com vocês. Caso contrário, teremos que usar a força bruta. É isso mesmo que querem?”
A mensagem era bem clara. Por mais que não utilizassem quaisquer padrões de língua humana, eles possuíam poderes mentais bem desenvolvidos, fortes o suficiente para entrar remotamente na mente de um dos Engenheiros.
Os demais concordaram com isso, e apavorados, não querendo ter suas mentes invadidas como aquele primeiro, começaram a bater rapidamente em retirada. Todos os equipamentos restantes foram sendo colocados dentro da nave.
E dentro dela, um comunicado foi rapidamente passado a todos... Aquele planeta não era inabitado como se pensava antes.
Por precaução, Eduardo correu para a sua cabine de comando, mandando primeiro um drone direto à AEB, com toda a informação que havia chegado naquele momento. Depois pensaria no que poderia acontecer. O melhor era evitar que aquilo acontecesse com outra equipe.
E não demorou muito para que o drone alçasse voo com todas as informações coletadas desde o pouso da nave principal em solo marciano.
Depois que todos os terráqueos estavam em seus lugares, prontos para a decolagem inesperada, Eduardo fazia o possível para que ela ocorresse o mais rápido o possível. Depois de 30 minutos da mensagem recebida, a nave começou a alçar voo, já deixando o solo marciano para trás. Porém, depois que a nave saiu da atmosfera marciana, Eduardo viu, com as câmeras traseiras da nave, algo similar a um canhão ser montado.
Eduardo avisou à própria equipe de navegação sobre o ocorrido, e precauções começaram a ser tomadas, afinal de contas, aquela nave não continha quaisquer armamentos, eles não conseguiriam se defender. Havia, sim, pods menores para evitar que todos morressem em qualquer cataclismo, em quantidade suficiente para que todos pudessem se salvar.
E a evacuação começou quase imediatamente. As pods eram apontadas para a frente da nave, fazendo com que seguissem uma linha reta, usando o corpo daquela nave enorme como escudo. Ela e os equipamentos não resistiriam, mas o material humano, sim.
O mais importante.
Antes de ser um Engenheiro Espacial, Eduardo também era um militar. E, mesmo desarmado, ele sabia muito bem o que fazer em casos de emergência. Ele evacuou os mais lerdos primeiro, que teriam menos chance de sobreviver, fazendo com que suas pods saíssem da parte traseira da nave. Os que tinham certo condicionamento físico, correriam para as pods do centro dela, e os melhores condicionados iriam para as pods na parte frontal.
E o plano foi sendo concluído com maestria, sendo que, em determinado momento, sobrava apenas a equipe de pilotagem da nave, que aos poucos foi sendo evacuada também.
Foi quando o primeiro tiro foi sentido.
A primeira explosão.
Eduardo sentiu a nave perder velocidade vertiginosamente.
Mesmo naquela situação, ele tinha que pilotar a nave até que menos de 10 por cento de sua equipe estivesse presente.
Foi quando ele percebeu que apenas ele estava ali, era hora de travar o piloto automático para que ele pudesse fugir.
Enquanto tudo aquilo acontecia, o drone já disparado por Eduardo chegava à Terra, e sua informação era decodificada para o alto escalão, que preparava as medidas protetivas do planeta. Era óbvio que os marcianos partiriam para retaliação.
Voltando à cena de combate, Eduardo levantou-se depois de travar o piloto automático, e correu para a sua pod, com o máximo de velocidade que pôde.
Ele tinha um ótimo condicionamento físico, era um militar, combatente formado.
E, com efeito, conseguiu que sua pod saísse da nave principal.
Foi quando a segunda explosão ocorreu.
O tiro varou a nave, passando pelas pods, acertando algumas no processo.
Eduardo estava surpreso por uma retaliação tão violenta ocorrer, confuso e aliviado por não ter sido atingido pelo tiro. Tudo ao mesmo tempo.
Foi quando uma segunda explosão aconteceu no momento seguinte...
Era o reator de aceleração do tempo que tinha sido atingido. Um raio concentrado de cor rosa saiu da nave, destruindo todo o lado da fuselagem que estava, e abrindo um portal instável à frente de algumas pods.
A de Eduardo inclusa, fazendo com que atravessassem aquele portal.
6 Comentários
um primeiro capítulo interessante, o início com o resumo dos acontecimentos que levaram até à fatídica viagem à Marte ficaram bons, assim como a conversa entre o Eduardo e Clarissa, que serviu para desenvolvimento de ambos.
ResponderExcluirSenti falta de um pouco mais detalhamento na interação com os Marcianos e, como parece se tratar de uma nova série, seria interessante terminar esse capítulo com a chegada deles e depois fazer um inteiro mostrando como teriam sido os primeiros contatos e aí sim escalar para esse ataque contra os brasileiros.
o gancho final ficou nem interessante, uma evolução visível na sua forma de escrever.
Vamos ver como será o próximo.
Parabéns pela estréia.
Obrigado pelas dicas, Norberto. Mas os Marcianos só foram um meio para o que irá acontecer. Fique esperto pro próximo capítulo. Fico feliz que tenha curtido.
ExcluirUol!
ResponderExcluirComo é bom te ver produzindo , meu amigo!
Já chegaste arrasando!
Vida longa a esse novo projeto!!
Vamos acompanhar!
Parabéns!
Obrigado de verdade.
ExcluirEm uma coisa concordamos :
ResponderExcluirNo futuro, o Brasil será um país de grande relevância....
O farol do mundo!
De modo diferente, em "The Sevan Singers", esse cenário está posto.
Nesse primeiro episódio,você já construiu um cenário de guerra interplanetária com os verdadeiros marcianos.
No final, acredito que célula do tempo foi ativada e acho que Eduardo eos tripulantes , voltarão à Terra numa outra época , diferente daquela realidade de 2919.
Ansioso por novos capítulos?
Pelo que eu vi, você gostou bastante, caro amigo. Fico feliz. Logo mais eu posto o segundo capítulo.
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