Crônicas de Amizade Estelar - Spin-Off Especial - Capítulo 11

  

11 – Os dilemas de Néfer, Ryu e Mai.

Aviso: Este Spin-Off deve ser lido após o capítulo 23 de Amizade Estelar.

 Escrito em parceria com o Treinador_Pokemon

Uma voz no seu comunicador determina que Néfer volte para o Cruzador Imperial Mess.

Ela despreza a ordem...

Nunca fizera isso...

Porém, dessa vez, permitiu-se desobedecer...

Rebelar-se...

Desligou o comunicador.

Queria ficar sozinha...

Disfarçada de humana, ela entra num shopping center e escolhe a lanchonete mais afastada possível.

Se portando como uma cliente qualquer, ela pede um lanche e um café...

Dinheiro era algo que Kéflen permitia que tanto ela, quanto Wandar, devido à importância que tinham, utilizassem à vontade.

Dessa forma, ela paga normalmente pelo seu lanche e se senta em uma das mesas, sem levar quaisquer suspeitas sobre quem, de fato, era.

Sua mente fervilhava...

A cena que foi obrigada a ver, quando foi afetada pela Visão Infernal Suprema de La Kéferus durante a última batalha, mexeu com suas bases...

Com suas convicções...

Perdida em seus pensamentos, pode-se dizer que Néfer, logo ela, normalmente tão fria, calculista e diabólica, estava sofrendo...

“Por quê?”

“Por que você fez isso comigo..., La Kéferus?”

Se antes ela o chamava de pai, agora era somente La Kéferus...

Algo mudou...

Mudou a ponto de Néfer renegar a si mesma, amaldiçoando a sua própria existência.

Comendo o seu lanche e tomando o seu café, ela se permitiu chorar...

Algo impensado...

Algo surreal...

Mas, sim!

Néfer, pela primeira vez em sua vida, chorava...

Tentando não chamar a atenção dos demais clientes, ela diz em tom baixo:

-Eu sou uma mentira...

-Uma grande mentira!

-Eu sou uma humana...

-Uma humana modificada!

-E o pior é que...

Néfer não consegue nem completar essa fala.

Um sentimento de ira, misturado com revolta e até culpa, toma-lhe a mente.

Ao terminar o seu lanche, ela se retira.

Na rua, propositalmente, ela quebra o seu comunicador...

Dessa maneira, ela não poderia mais ser rastreada...

Nem teria de ouvir novamente a voz daquele que, um dia, ela chamou de “pai”.

Com o comunicador quebrado nas mãos, ela faz um juramento para si mesma:

-La Kéferus, seu desgraçado!

-A partir de agora, você não mais me achará...

-Viverei nas sombras...,

-Escondida...,

-Vivendo como uma humana...,

-Uma humana que sou.

-Até emprego vou arrumar, para me manter...

-Me recuso a aceitar mais qualquer coisa de você!

-E, no momento certo, eu juro...

-Vou me vingar!

-Nem que seja a última coisa que eu faça...

-Você pagará por ter me usado e me manipulado... durante toda a minha vida...

A guerreira mutante segue rumo ignorado...

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Em outro local da cidade...

Num bar de quinta categoria, Ryu Asuka estaciona a sua moto...

Ao entrar, pede uma garrafa de cerveja e dois pedaços de pizzas.

Os últimos acontecimentos o deixaram atordoado...

Ele queria entender o porquê de ter sido, subitamente, tomado por aquela coragem e fazer o que fez, contrariando o seu jeito de ser até então...

Durante a brutal batalha de Wandalo contra a equipe liberada por Change Dragon, Ryu Asuka fez algo que não fazia há muito tempo...

Se transformar no Mask X-1.

Foi ele quem atacou Wandalo e La Snakeryn de modo furtivo, bem no instante em que Wandalo acionara, pela terceira vez, o seu terrível poder de congelar o tempo.

Primeiro, acertou Wandalo com uma rajada de energia, disparada de seu “Aura Lightning” (*01)...

Depois, La Snakeryn é alvejado por Mask X-1, com uma faca carregada de eletricidade pelo mesmo poder...

Ryu, com essa ação, foi decisivo para que a equipe de Dragon saísse da condição de quase mortos, para uma vitória apertada e emocionante...

Ryu tinha consciência disso. No entanto, ainda se recusava a aceitar.

Enquanto comia os seus pedaços de pizza e bebia a sua cerveja, ele dizia para si mesmo, em pensamento, várias coisas...

Era visível o seu sofrimento!

Mergulhado no turbilhão tormentoso de seus traumas e bloqueios, Ryu Asuka era a morte em vida...

“Depois de tanto tempo...,”

“Depois de tantos anos apenas como Ryu Asuka...,”

“Eu voltei a me transformar no Mask X-1!”

“Por que fiz isso...?”

“Foi um erro...”

“A emoção falou mais alto do que a razão.”

“Hiroki...”

A memória de seu desaparecido irmão, antes tido como morto, agora revelado que está vivo e, ainda, ser um dos Flashman, ainda lhe causava muitas dores...

Ryu toma mais um gole de cerveja, antes de seguir com sua reflexão:

“Certamente, meu antigo mestre suspeitará que fui eu quem ajudou os dois Esquadrões...”

“Isso não podia ter acontecido!”

“É bem provável que Mestre Sugata esteja dando apoio a eles...”

“Sei que eles estão lutando pelo meu irmão...”

“Sei que estou fugindo...”

“Sei que muitos vão me chamar de covarde...”

“Sei que irão me procurar...”

“E, por fim, sei que a minha recusa em colaborar vai machucar o meu irmão...”

“E isso era tudo que eu queria evitar!”

“Por isso, não devia ter interferido na luta!”

“Tudo isso eu sei...”

“Eu também sei que..., eu não consigo...”

“O erro está em mim...”

“Ninguém poderá me entender, ainda que me julguem...”

“O que muitos não entendem, é que passei uma vida inteira sendo chamado de mentiroso...”

“Sendo desacreditado por todos, por algo que sei que aconteceu...”

“A começar pelos próprios meus pais...”

“Não os culpo, afinal... eles perderam a memória...”

“Mas, o fato deles terem duvidado de mim por uma vida inteira, nunca me ajudou...”

“Nunca superei...”

“Eu ainda tentei mudar o foco, quando me tornei discípulo do Sugata...”

“Estava indo bem...”

“O Poder Aura fluía, como ainda flui, de modo intenso dentro de mim...”

“Pelo menos, isso se manteve...”

“Pelo menos isso...”

“Cheguei a achar que finalmente havia reencontrado meu rumo...”

“Mas, do que adiantou tanto treino...?”

“Tanto estudo e tanta dedicação...?”

“Se não fui capaz de salvar o amor da minha vida..., Yuuko...”

“Por mais que queira bem ao meu irmão, não quero me afundar de novo nesse turbilhão de dor...”

“Não sei se conseguirei suportar a dor da perda, uma terceira vez...”

“Por isso é melhor, tanto para o Hiroki quanto para mim, que ele esqueça que eu existo, e siga sua vida sem mim...”

Terminando sua refeição e sua bebida, Ryu toma uma decisão:

“Vou dar uma passada em casa...”

“Certamente eles vão bater lá, se já não bateram, à minha procura.”

“Acho que devo, pelo menos, ir ver como meus pais estão, depois de todo esse tempo...”

“Mas, isso não mudará minha decisão!”

“Por tudo o que sofri, tenho o direito de agir como estou agindo.”

“Não espero compreensão de ninguém...”

“Mas também, não serei joguete nas mãos de ninguém!”

Ryu se levanta, paga a conta, sai do estabelecimento, pega o seu capacete e o coloca no rosto...

Novamente, ele liga a sua moto e parte...

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Na sede dos Defensores, Mai finalmente desperta...

Uma forte dor de cabeça é o primeiro sintoma que ela percebe, impedindo-a de abrir os olhos.

A luminosidade da enfermaria também a incomodava.

-Nossa, que dor! – começa dizendo para si mesma.

Com muita dificuldade, ela consegue se levantar e sentar no leito.

Reconhecendo o local, ela diz:

-Estou na enfermaria da nossa base...

-Pelo menos, estou viva...

-Sinal que vencemos...

Tentando coordenar seus pensamentos, Mai tenta se recordar dos acontecimentos que antecederam a sua perda de sentidos...

Ela para em uma imagem...

Pink Five...

Um gélido arrepio toma conta da sua alma.

“Teria ela morrido?” – pensa, instintivamente.

Ansiosa por notícias (isso sem saber ainda que Hayate também estava hospitalizado, por motivos semelhantes ao dela), ela aciona o botão de chamada.

Em menos de um minuto, um enfermeiro solicitamente a atende:

-Oficial Tsubasa! Em que posso ajudá-la?

Mai já o conhecia e vai logo ao assunto:

-Prezado Toshiro, eu gostaria de ter notícias da Hikaru...

-Estou preocupada...

Prestativo, Toshiro diz:

-A batalha que tiveram foi muito intensa...

-A Oficial Katsuragi ficou muito ferida, inspirando muito cuidados, mas já está fora de perigo...

-Assim como o Oficial Hayate...

Por aquela informação, Mai não esperava...

Pega de surpresa, ela pergunta:

-O Hayate??

-Ele também está hospitalizado??

-O que aconteceu com ele??

Em sua ansiedade, Mai se esquecera que existiam protocolos de segurança na organização a qual pertencia...

Não cabia a Toshiro, um técnico de enfermagem, falar sobre algo fora de sua alçada. Informações sobre as missões militares dos Defensores eram classificadas, afinal de contas.

Contornando esse desconforto, Toshiro se esquiva:

-Oficial Tsubasa, essa informação somente com o Comandante Tsurugi ou os demais membros do esquadrão...

-Mas, posso lhe dizer que, assim como a Oficial Katsuragi, o Oficial Hayate também não corre risco de vida...

-Se tranquilize quanto a isso...

Mai se dá conta da gafe que cometera:

-Me desculpe, Toshiro... Tolice a minha!

-Havia me esquecido dos protocolos de segurança dos Defensores...

-Mas, mesmo assim, obrigada por me tranquilizar...

Toshiro acena positivamente com a cabeça, dizendo:

-Não há de quê, Oficial Tsubasa! Se precisar, é só chamar...

-Se me dá licença?

Mai assente.

-Toda...

-Uma vez mais, obrigada.

Uma vez sozinha, tentando se adequar ao desconforto da insistente dor de cabeça, Mai volta a se deitar em seu leito.

Precisava pôr a cabeça no lugar...

Já lhe doía saber que Hikaru se encontrava naquele estado...

E agora, a notícia de que Hayate também sofreu sequelas do combate a abateu profundamente.

Ela não sabia explicar, mas, internamente, ela intui que aconteceram coisas muito graves nesse ínterim...

Coisas que, justamente, ela não conseguia se recordar...

Tomada por um medo estranho, a guerreira rosada diz para si mesma:

-Está sendo tão difícil...

-São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo...

-Neo Mess...

-Batalhas duras...

-Vontade de abraçar a minha prima...

-A Lú...

-Oh... minha querida prima! Como dói...

-Os Flashman...

-A Hikaru...

-E o Hayate...

Nesse instante, Mai faz uma pausa.

Ali, sozinha, ela poderia ser ela mesma, sem ter que bancar a durona...

Afinal, ela também tinha sentimentos...

Dores...

Traumas...

Medos...

Remorsos...

E uma já não tão dissimulada paixão...

Hayate.

Ao lembrar do “bad boy”, e já não aguentando o peso de tantas emoções se acumulando em sua alma, Mai se permite chorar...

Um choro silencioso...

No entanto, um choro sentido...

Seus pensamentos a torturam de modo impiedoso...

“Como eu sou estúpida!”

“Uma tonta!”

“Maldita mania de querer parecer durona!”

“Por que não assumo, de vez, o que sinto?”

“Sempre fui tão decidida para tudo na vida...”

“Mas, não consigo domar a angústia do meu coração...”

“Da minha paixão...”

“Quanta coisa eu deixei de viver com ele?”

“Tudo por quê?”

“Por medo de dar errado...?”

“Por medo de me machucar...?”

A imagem do brincalhão, mulherengo, e incrivelmente atraente colega de esquadrão, lhe vem à mente.

“O Hayate é, assumidamente, um mulherengo incorrigível...”

“E eu sou muito possessiva e explosiva...”

“Não tem como dar certo...”

“Mas, ao mesmo tempo, ele é adoravelmente sedutor e apaixonante...”

“Além de ser um cara muito autêntico e corajoso...”

“E dedicado...”

“Não me esqueço do seu companheirismo, quando eu passei uma temporada lá no dôjo do meu tio Shiunsai (*02), naquele episódio das crianças raptadas por Ahames...”

“Ali, ele mostrou um lado que eu não conhecia, e que me quebrou na emenda...”

“Não consigo mais esconder essa atração irresistível...”

“Sentimento assim, só senti uma vez pelo Doutor Togo...”

“Mas, ele está cumprindo a missão dele num planeta distante...”

“Não adianta eu alimentar esperanças por algo que nunca ocorrerá...”

“Mas, o Hayate... está aqui... do meu lado.”

“Eu fico fazendo charme...”

“E quem se machuca sou eu...”

“E se ele tivesse morrido de verdade, sua idiota?”

“E se aquela ilusão da Néfeli tivesse ocorrido de verdade?”

“Como você se sentiria, Mai?”

“Ficaria chorando pelo resto da vida, por não ter ao menos tentado...”

“Talvez, no final, tudo isso acabe não passando de uma febre, de uma paixão juvenil que, com o tempo, acabe...”

“Mas, eu tenho que viver isso...”

“Eu tenho que sentir essa experiência de vida...”

“Mesmo que seja por tempo limitado...”

“Eu preciso criar coragem e me abrir...”

Criando forças dentro de si mesma, ela se levanta.

No lavabo da enfermaria, ela lava o rosto, para limpar quais vestígios de lágrimas dos olhos...

Não queria transparecer fragilidade perante os demais, mas estava decidida.

Ao se olhar no espelho, ela jura para o reflexo de sua imagem:

-Eu vou viver essa paixão!

-Vai dar certo?

-Não posso prever...

-Mas, eu quero, preciso e vou, ao menos, tentar...

E, com um sorriso maroto nos lábios, ela finaliza:

-Hayate, seu safado irresistível...,

-Me aguarde!

-Você descobrirá que Mai Tsubasa não é só uma garota durona...

-Ela tem muito mais para oferecer...!

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Na Nave de Neo Mess...

Um enfurecido e impaciente La Kéferus esbraveja ao comunicador:

-NÉFER!!

-POR QUE NÃO ME ATENDE?

-ONDE VOCÊ ESTÁ?

-EU NÃO TIVE ALTERNATIVA!!

-SAIBA QUE, SE REBELAR, ESQUECEREI TODA A CONSIDERAÇÃO QUE TIVE POR VOCÊ ATÉ AGORA!!

-NÃO ADMITO TRAIDORES!!

Além de amargar a decepção da última derrota contra os Bioman e os Changeman, depois de ter chegado tão perto da vitória, Kéferus ainda teve que suportar a ira de Devil-Star, que passou a cobrá-lo de modo mais enfático, a ponto de fazer até ameaças...

E, agora, com o silêncio de Néfer, Kéferus sente que, bem debaixo do seu nariz, algo começava a ruir...

A sua autoridade.

E as coisas ficariam ainda piores...

Ao ordenar a Wandar que procurasse por Néfer, ele ouve do guerreiro-zebra a seguinte fala:

-Vá você mesmo atrás dela!

-Se não estiver contente, acabe comigo agora!

-É bem melhor do que passar por aquele sofrimento horrível da transformação...

-E isso quando você havia prometido que não nos submeteria àquilo...

-Tenho minhas divergências com a Néfer...

-Mas, nesse caso, eu a apoio...

-Assim como eu, ela tem motivos de sobra para sumir dessa forma...

Wandar se retira, virando as costas, numa atitude jamais pensada por Kéferus que, de tão chocado, não consegue reagir...

Ao se ver sozinho, ele dá alguns passos trôpegos...

-O QUE ESTÁ ACONTECENDO??

-PRIMEIRO, NÉFER DESAPARECE...

-E AGORA WANDAR ME AFRONTA DESSA MANEIRA??

-ESTOU PERDENDO MINHA AUTORIDADE...

-ISSO NÃO POSSO PERMITIR!!

Ensandecido, ele se dirige ao teclado do seu Sintetizador Biomolecular e dirige impropérios a um determinado ser...

O seu grande inimigo, aprisionado dentro de seu próprio corpo...

La Deus...

Ele nem percebe que sua face sofre nova mutação...

Um grande olho se mostra por baixo de sua face, que rapidamente desaparece, conforme Kéferus dedilha o teclado.

-NÃO PENSE QUE ME VENCERÁ, LA DEEEEUSSSS!!

-ESSA REBELIÃO DEVE SER COISA SUA!!

-HAJA O QUE HOUVER, VOU TE VENCER!!

Diante dos últimos acontecimentos, transferir a culpa para La Deus era a única consolação que Kéferus tinha no momento...

Assim como se focar na reativação do Bio Hunter Silver o mais rápido possível...

 

Notas

(*01)“Aura Lightning” se traduz, literalmente, como “Relâmpago Aura”. No episódio 39 de Maskman, o Mask X-1 mostra ser capaz de disparar rajadas elétricas semelhantes a relâmpagos. Esse ataque nunca é nomeado na série, então “Aura Lightning” é uma liberdade criativa dos autores para nomeá-lo;

(*02) Conforme visto na obra “Changeman: Asas Rosadas” , de autoria do fictor Treinador_Pokemon;