Como nós
muito bem sabemos, o clã Stroheim é uma das famílias mais poderosas de todo o
mundo, e há muito seus diversos representantes têm servido como guarda-costas a
famílias nobres não apenas da Europa, como também do norte da África, do
Oriente Médio e até mesmo da Ásia Média.
O poder dos
Stroheim é tal que muitos especulam se eles na verdade são o poder por trás do
trono daqueles que eles há muito tempo vem servindo. Só que, como veremos, nem
sempre os Stroheim tiveram a projeção, o poder e o prestígio que hoje
desfrutam.
Segundo
contam os registros históricos que chegaram até nós, a casa dos Stroheim, do
ponto de vista político e militar, está na ativa desde os tempos do Império
Romano (27 a. C. – 476 d. C. ). Mais precisamente, desde o primeiro século da
Era Cristã. Naquela mesma época, o Império Romano, depois de ter esmagado com o
poder céltico na Gália (atual França) ainda no período republicano tardio sob
Júlio César, tentou estender sua autoridade até as regiões além dos rios Reno e
Danúbio.
De suas bases
na Gália, os romanos resolveram se expandir para além do Rio Reno, nas terras
habitadas por tribos germânicas das mais diversas. Para isso Roma tratou de
cooptar algumas lideranças das tribos germânicas para o seu lado. Os planos de
Roma envolviam a criação da província da Magna
Germania. Uma província que uma vez formada iria estender a fronteira do
Império baseado em Roma até o rio Elba.
E é nessa
história que entram duas figuras em especial: o chefe querusco Hermann e o
líder da tribo dos marcomanos Marobodus. De ambos os Stroheim reivindicam
descendência. Hermann (em latim Arminius
e em alemão antigo Irmin) teria
nascido por volta de 21 antes de Cristo, no seio da tribo dos queruscos, que à
época habitava as terras que hoje correspondem ao noroeste da Alemanha.
Já o segundo
nasceu por volta do ano 30 antes de Cristo no seio da nobreza dos marcomanos,
os quais após terem sido vencidos por Roma no ano 10 antes de Cristo se
deslocaram da Germânia para a Boêmia (atual República Tcheca) e lá formaram uma
aliança tribal para resistirem ao avanço romano. Os queruscos e os marcomanos
foram mencionados por Júlio César em sua obra “Commentari de Bello Galico” (“Comentários sobre a guerra gálica”),
que conta a respeito da guerra por ele travada na Gália entre 58 e 51 antes de
Cristo. Depois dele, Tácito também veio a citar ambos os povos em suas obras.
À época, o
que hoje nós conhecemos como Alemanha era uma verdadeira colcha de retalhos. As
paragens entre os Rios Reno e Oder e entre o Mar do Norte e os Alpes austríacos
carecia de unidade política. Diversas tribos habitavam aquelas paragens. E
havia algo em comum entre elas: o sistema de crenças. Eles, assim como a
maioria dos povos de seu tempo, eram pagãos e acreditavam em vários deuses,
sendo Wotan (Odin na Escandinávia) o principal deles. Outras divindades tais
como Donnar (Thor na Escandinávia, o deus do trovão), Freya (deusa da
fertilidade), Tyr (deus da guerra) e outras também eram cultuadas pelos
germânicos antigos.
A história
começa no ano 12 antes de Cristo, com as primeiras incursões de Roma, já sob a
égide de Otávio Augusto, o primeiro imperador romano, sobre as terras além do
Reno. Naquele ano, o comandante militar Nero Claudius Drusus “o velho” cruzou o
Reno e logrou conquistar muitas das tribos germânicas locais, de tal modo que
ele estendeu as fronteiras do poder romano na Germânia até o rio Albis (Elba).
Com a morte de Drusus, seu irmão Tibério dá continuidade às ações bélicas
romanas na Germânia e após travar mais alguns enfrentamentos contra as tribos
locais deixou a Germânia nas mãos de vários legados que estabeleceram relações
amigáveis entre os germânicos. Augusto, satisfeito com os feitos de seus
comandantes na Germânia, passou a almejar transformar as terras entre os rios
Reno e Elba em uma província romana.
Só que as
coisas não saíram como o esperado para o Império Romano, visto que uma
importante liderança tribal germânica, Hermann resolveu se levantar contra Roma
e no ano 9 da era Cristã ele, aproveitando-se do terreno pouco favorável às
típicas táticas de guerra da máquina de guerra romana, reuniu as tribos
germânicas e promoveu uma emboscada contra as legiões comandadas pelo
comandante Publius Quinctillus Varus na floresta de Teutoburgo. Como resultado,
não só Varro foi morto no enfrentamento, como também três legiões (a XVII,
XVIII e XIX) foram aniquiladas de uma tacada só. A emboscada reclamou as vidas
de cerca de 20 mil legionários, além da captura dos estandartes das legiões
romanas por parte das tribos germânicas.
Após o
desastre em Teutoburgo, Roma desistiu de estabelecer a província da Magna Germânia, e limitou-se dali em
diante em promover incursões punitivas contra as tribos germânicas. Uma dessas
incursões punitivas ocorreu logo após a batalha de Teutoburgo, entre os anos de
14 a 16 d. C., na qual o imperador Tibério enviou um exército à Germânia sob o
comando do general Germânico com a intenção de recuperar os estandartes das
legiões perdidos na batalha de Teutoburgo. Dessa vez, os romanos levaram a
melhor, tendo vencido o mesmo Armínio (o qual veio a ser morto em 21 por rivais
políticos dele) nas batalhas de Idistavizo e do muro de Angrivar. Outros
enfrentamentos entre o Império Romano e as tribos germânicas se sucederam nos
anos e séculos seguintes.
E é nesse
contexto de periódicos enfrentamentos entre o poder imperial romano e as tribos
germânicas que os Stroheim surgem na história. No final do primeiro século da
Era Cristã, um importante guerreiro das tribos germânicas estabelecidas na
região entre o sul da Alemanha e a Boêmia (atual República Tcheca), que é
citado em fontes latinas sob o nome de Hagen da tribo dos marcomanos e sobrinho-neto
por parte do lado paterno do já citado Marobodus, estava ciente do fato de que
Roma, embora tenha sido vencida em embates anteriores contra as tribos
germânicas, ainda assim de tempos em tempos enviava tropas à Germânia para
empreender incursões punitivas contra as tribos germânicas, achou que já estava
na hora de colocar ponto final nestes ataques. E, para isso, ele mesmo desenvolveu
um estilo de combate único, visando especialmente o combate às legiões vindas
do sul.
E o que
poucos sabem a respeito dele é que ele mesmo era um cidadão romano, e que tal
como o ilustre tio-avô dele, ele mesmo viveu sua juventude no Império Romano. Em
outras palavras, ele testemunhou os anos áureos do Império Romano, sob o
imperador Nero (r. 54 – 68).
Enquanto
viveu no Império Romano ele tomou conhecimento de várias coisas. Viu as lutas
no Coliseu Romano, aonde muitos dos prisioneiros de guerra germânicos eram
enviados após serem vencidos e capturados em combate. Uma vez portando o
tradicional gládio romano, lá eles eram transformados em gladiadores e travavam
lutas até a morte, por vezes enfrentando outros gladiadores, por vezes lutando
contra animais que os romanos traziam de todos os cantos do Império e até mais
além, incluindo leões e leopardos da África e do Oriente Médio, tigres da
Mesopotâmia, do Cáucaso e da Índia, ursos, lobos, bisões e auroques da Germânia,
da Gália e das Ilhas Britânicas, cães e cavalos das mais variadas raças e
procedências, elefantes e rinocerontes da África e da Índia, avestruzes,
girafas e hipopótamos da África. Muitos destes dos quais Hagen jamais sonharia
em ver nem mesmo em seus sonhos mais malucos que e jamais imaginou (ou sonhou) que
existia, visto que naturalmente não vivem na Germânia natal dele.
Enquanto
viveu na Itália, Hagen soube que no Oriente existe um império que Roma nunca
logrou conquistar, a Pérsia, à época governada pela dinastia parta (r. 247 a.
C. – 224 d. C.). Os romanos travaram várias guerras (geralmente inconclusivas)
contra a Pérsia em disputa por territórios na Mesopotâmia (atual Iraque), a
Armênia e regiões adjacentes, nas quais os dois lados trocavam vitórias entre
si e nunca um lado se sobrepôs ao outro, ao ponto de um aniquilar o outro e
vice-versa.
As histórias
que ele ouviu a respeito da Pérsia despertaram em Hagen uma curiosidade tal que
ele passou a desejar conhecer o reino oriental. E essa oportunidade na vida
chegou por meio de um convite do próprio imperador Nero a integrar a comitiva
imperial romana à Pérsia. Hagen aceitou o convite, e uma vez na Pérsia os
membros da comitiva imperial foram recebidas com honrarias de Estado pelo xá (imperador)
da Pérsia, Pakoros II.
Na Pérsia,
Hagen o marcomano visitou algumas das suntuosas cidades do Império Persa,
incluindo a capital Ctesifonte (situada próxima a Bagdá). Na Pérsia, ele ficou
deslumbrado com a suntuosidade dos palácios imperiais e toda a organização de
que os persas dispunham. E ele pensou consigo mesmo, era disso que as tribos
germânicas precisavam para poder fazer frente ao Império Romano.
Enquanto
viveu na Itália, Hagen o marcomano não apenas conheceu outras partes do mundo
romano, tais como a África e a Ibéria, como também aprendeu as táticas e
estilos de luta romanos. Também aprendeu um pouco sobre estilos de luta persas
enquanto esteve por lá. As fontes romanas a respeito dele contam que Hagen era
tão forte que ele foi capaz de matar um leão de cerca de 300 quilos no norte da
África sem precisar utilizar armas enquanto ele e sua comitiva passavam pelas
florestas locais, próximas aos montes Atlas.
Depois de
tanto tempo vivendo entre os romanos, Hagen voltou à Germânia para viver entre
os seus. Mesmo que durante muito tempo ele tenha vestido roupas romanas,
treinado artes marciais romanas, portado armas romanas e até mesmo integrado delegações
diplomáticas romanas à Pérsia, ainda assim ele nunca se esqueceu de suas
raízes. Nunca esqueceu que era um germano da tribo dos marcomanos, e que Roma
não poderia fazer o que bem entendia nas terras germânicas.
Uma vez
retornado à Germânia, ele desposou uma mulher germânica chamada Helga, da tribo
dos suevos, e ele, tendo se tornado o chefe de sua tribo, não apenas
desenvolveu um estilo de luta que mistura elementos tanto das lutas tribais
germânicos e das lutas greco-romana e persa, como também treinou seus
guerreiros com base na arte do combate que ele mesmo aprendeu nos anos em que
viveu na Itália. E a ideia dele era bem clara com isso: usar o que ele aprendeu
ao longo dos anos em que esteve em Roma contra os romanos.
Como não
poderia deixar de ser, o novo estilo de luta dele deixou vários guerreiros
germânicos mais tradicionalistas furiosos, visto que eles viam com ultraje um
guerreiro germânico como Hagen utilizar-se das táticas de combate romanas seu
estilo de luta. Mas logo ele calou a boca destes ao mostrar na prática a
eficácia de seu estilo de combate, como veremos.
Certa vez, no ano 90, Roma enviou suas legiões à Germânia central para empreender uma incursão punitiva sobre as tribos germânicas locais, as quais por sua vez de tempos em tempos promoviam suas incursões de pilhagem sobre o território sob o domínio romano. E Hagen, sabendo do avanço dos exércitos sulistas, se prontificou a enfrentá-los. Nos passos montanhosos dos Alpes bávaros ele e suas forças se encontraram com as legiões romanas. E este, milagrosamente, não apenas confrontou como também, se aproveitando das vantagens que o terreno florestado local deu a suas forças, rechaçou as legiões romanas com as técnicas de combate que ele mesmo desenvolveu após longos anos de treinamento. Uma vez vencidas as legiões romanas, ele assegurou que nunca mais exércitos vindos de Roma iriam pisar no coração da Germânia.
1 Comentários
Aqui se inicia uma incursão histórica sobre o passado do clã Strouheim datando do Império Romano !
ResponderExcluirTodo o poder vai ganhando forma com o passar das gerações até se tornar o que hoje.
Pode parecer clichê e óbvio, mas tudo tem um começo e , como sabemos, o começo geralmente , não é nada glorioso !
Vejamos como se dará essa evolução!