Capítulo XI - As rodas do destino: vingança
Os anos se
passaram e o jovem Wolfgang Krauser Graf von Stroheim cresceu. E pouco a pouco,
conforme os anos se passaram um atrás do outro, ele não apenas cresceu como
também foi tomando consciência do mundo ao seu redor.
Desde que sua
esposa Helena e seu filho Siegfried deixaram este mundo, o velho Michael muito
sentiu a partida deles. Para além do fato de ter deixado o clã Stroheim sem
herdeiros do sexo masculino, o baque psicológico para Michael foi tal que desde
então ele passou a passar mais tempo no órgão do castelo que de costume.
Sempre que o
velho Michael ia ao órgão passar longas horas tocando o seu instrumento
favorito, Wolfgang, movido por curiosidade e impressionado com a beleza do som
do instrumento, ia ver o bisavô tocar o instrumento. E isso não passou
despercebido pelo velho Michael. Este, por seu turno, fingia que não percebia a
presença do bisneto enquanto tocava o órgão.
Até que um
dia, vendo o banco do órgão vago, o jovem Wolfgang, movido pela curiosidade,
resolve tocar um pouco do instrumento. Ele sente um fascínio inexplicável quando
vê o bisavô tocando o órgão e escuta o som que saia do mesmo. É um som divino,
capaz de acalmar até mesmo as almas mais belicosas e hostis. Ele resolveu se
aventurar a tentar tocar e tirar umas notas musicais do órgão. Sem que ele
percebesse, o seu bisavô estava vendo tudo, e ficou impressionado com o que
viu. “Você tem talento para o órgão, Wolfgang. Gostei de ver”, diz Michael ao
bisneto. O pequeno Wolfgang pergunta ao bisavô qual que é a música que ele toca
no órgão. O velho Michael responde que se trata da música favorita do avô
materno de Wolfgang, Siegfried Krauser Graf von Stroheim, Lacrimosa, de Mozart. “Sempre que escuto esta música, me lembro do
meu filho”, diz Michael.
Na maior
parte do tempo, Michael, como um típico alemão, é um homem discreto e pouco
afeito a aparições públicas. Ele detesta os holofotes da imprensa, e acha que
os veículos de imprensa não passam de um bando de abutres esperando a morte da próxima
vítima para se refestelarem sobre o cadáver dela. Além disso, ele é um homem
frio pouco afeito a demonstrações públicas de afeto a terceiros. Mas, depois da
tragédia que se abateu sobre a família dele, ele já não consegue mais manter a
mesma pose de antes, por mais que ele se esforce no sentido oposto.
Vendo que
Wolfgang já tinha certa idade e já começava a entender o mundo a sua volta,
Michael resolveu não apenas ele mesmo ensinar o bisneto a tocar órgão, como
também se encarregou da educação musical dele.
Antes a
ensinar o bisneto a tocar o órgão, Michael explica a Wolfgang uma série de
coisas. Ele conta que os Stroheim, ao longo da história, têm sido uma das
famílias mais poderosas e influentes da história da humanidade. E que eles não
apenas influenciaram nos rumos da política e da economia mundial, como também
atuaram como mecenas (patronos) de diversos artistas ao longo da história. E
entre eles, grandes nomes da música erudita tais como Vivaldi, Bach, Mozart e
até mesmo Richard Wagner, Georges Bizet e Giuseppe Verdi.
Michael
pergunta a Wolfgang qual que é o compositor dele. Wolfgang responde que o
compositor favorito dele é Mozart. “Você tem bom gosto, Wolfgang. Mozart foi um
grande compositor, uma das grandes mentes criativas da história da música
erudita, e é uma pena que ele tenha morrido tão novo”. Na companhia dos pais e
do bisavô, Wolfgang de tempos em tempos vai a teatros e a concertos musicais, e
nessas idas a teatros e concertos Wolfgang pegou gosto pela música erudita.
Conta ainda o
chefe da família Stroheim ao bisneto que àquele que se torna o grão-conde de
Stroheim não basta apenas ser um homem fisicamente muito forte e poderoso,
capaz de façanhas inimagináveis muito além do que humanos comuns podem sonhar.
Ele também precisa ser uma pessoa bem culta e inteligente. Precisa não apenas
saber falar pelo menos uns três ou quatro idiomas fluentemente, como também
tocar instrumentos musicais como órgãos, flautas, violinos e pianos, ser um
ótimo esgrimista e manejar uma espada, andar a cavalo, adestrar cães, ser um
ótimo falcoeiro, entre tantas outras coisas típicas de pessoas nascidas no seio
da aristocracia germânica. Isso sem contar com as matérias que pessoas comuns
aprendem na escola tais como história, geografia e matemática. Conforme
Wolfgang foi crescendo, a família dele tratou de providenciar a ele a melhor
possível, visto que ele é o herdeiro do clã Stroheim.
Uma das
coisas que o jovem Wolfgang Krauser mais gostava em seus primeiros anos era
andar a cavalo pelos bosques da região ao redor do castelo Stroheim. E ao andar
de cavalo pelos bosques próximos do castelo ele viu uma série de coisas. De uma
distância segura, viu animais como lobos e ursos caçarem e matarem suas presas.
Animais carniceiros se alimentando dos cadáveres de animais mortos por outros.
Entre tantas outras coisas.
O jovem
Krauser também gosta muito da falcoaria e da esgrima. Quando ele segura uma
espada, ele sente um fascínio único ao tocar e manejar uma espada com todo o
cuidado que uma arma com duas lâminas cortantes requer. Mas o tempo mostrou que
em matéria de luta ele prefere as lutas corporais, sem armas, apenas punho
contra punho. Também pegou gosto por coisas ligadas a cavalaria e tudo aquilo
ligado à antiguidades medievais.
Logo após
Wolfgang completar seis anos de idade, no ano de 1965, o velho Michael morre
aos 80 anos de idade. Ele morreu enquanto dormia em seus aposentos, e era visível
em seu rosto uma expressão serena e com um sorriso estampado no rosto. Uma
expressão de alguém que cumpriu com louvor a passagem dele por este mundo,
tendo segurado as pontas no clã em um momento de muita dificuldade.
Ao bisneto,
ele ensinou o básico do manejo com o órgão, e ficou impressionado com o talento
dele para o instrumento musical e a dedicação que ele demonstrou nas aulas. Em
uma das aulas, disse que Wolfgang era um prodígio com o órgão. Com a morte
dele, professores especializados irão dar continuidade às aulas de educação
musical ao jovem Krauser e avançar aos níveis mais adiantados do manejo de
instrumentos musicais.
Com a morte
do velho Michael, Rudolf se tornou o Grão-Conde de Stroheim e passou a usar a
armadura dourada que os chefes do clã germânico ao longo da história vêm
usando.
Enquanto
Michael vivo esteve, a relação dele com Rudolf nunca foi das melhores. Para
poder ser integrado à família Stroheim, Rudolf passou por uma verdadeira
transformação. Teve que passar por várias horas de aulas de etiqueta, nas quais
se saiu muito bem. Aprendeu esgrima, a tocar instrumentos musicais, aprender
idiomas, entre outras artes. Só que para Michael Rudolf nunca deixou de ser um
plebeu que em cujas veias não correm sangue azul. E o fato de Rudolf ter abandonado
a família que ele constituiu na América para se tornar nobre piora ainda mais
as coisas para o lado dele. Michael sempre o olhou de cima para baixo e nunca
escondeu aos amigos mais próximos que nunca gostou dele, só o tolerou em nome
da preservação da linhagem de seu clã. E não só isso: certa vez, também
comentou aos amigos mais próximos que era questão de tempo os fantasmas do
passado dele voltarem a atormentá-lo. “Mais cedo ou mais tarde, ele vai colher
o que plantou”, disse ele a seu amigo Franz.
Enquanto
viveu, como Grão-Conde do clã Stroheim, o velho Michael fez de tudo para
mantê-lo na linha. E assim o foi enquanto vivo esteve. Rudolf, por seu turno, a
despeito de sua habilidade como lutador, nunca se atreveu a enfrentar Michael
em combate. Visto que por mais que Michael já estivesse velho e sem a mesma
força de outrora, ainda assim era um homem muito forte contra o qual uma
vitória seria algo no mínimo muito custoso. Uma verdadeira vitória de Pirro[1],
em outras palavras.
Morto
Michael, Rudolf se tornou o 34º Grão-Conde de Stroheim. Uma cerimônia luxuosa
teve lugar no castelo Stroheim para formalizar sua ascensão ao poder dentro do
clã Stroheim, por meio da qual a armadura até então usada pelo velho Michael
foi colocada em seu corpo pela primeira vez. Após a cerimônia, uma pintura em
forma de quadro dele foi feita, na qual segura o cabo de uma espada virada para
baixo.
No fim,
aconteceu o que o velho Michael previu, embora este não estivesse vivo para
ver: três anos após a morte de Michael, os fantasmas do passado de Rudolf
voltariam um dia a atormentá-lo. E isso logo após Wolfgang completar nove anos
de idade.
No dia em
questão, um garoto apareceu no pátio do castelo querendo matar Rudolf após
conseguir se infiltrar sem ser pego pelo pessoal da segurança. Ele porta um
punhal na mão direita, e a expressão dos olhos dele visivelmente clamava por
vingança. Ele quer sangue, e para ontem! Este garoto é ninguém menos que Geese
Howard, e ele quer matar o pai por ele ter abandonado a mãe dele, Maria Howard,
para poder virar nobre na Europa.
Maria veio a
falecer com Geese tendo que cuidar dela praticamente que sozinho. Geese culpa o
pai dele pela morte da mãe, visto que ele deveria ter vindo em auxílio dela no
momento em que ela mais precisava. Depois que Rudolf resolveu virar nobre na
Europa, a saúde de Maria nunca mais foi a mesma. O baque para ela tal que ela foi
pouco a pouco perdendo a vitalidade e a beleza de outrora, e no fim das contas o
organismo dela estava tão debilitado, mas tão debilitado que o câncer nos
pulmões que a acometeu a ceifou em questão de poucos meses (e detalhe: Maria nunca
colocou um cigarro na boca dela). O impacto foi que tal que até parece que
Maria envelheceu 25 anos em um espaço temporal de meia década.
FLASHBACK
Em seus
últimos momentos de consciência, já em seu leito de morte e muito debilitada por
causa da doença que a flagela há meses, ela pediu a Geese uma coisa: que ele
não odeie o pai dele, a despeito de tudo o que ele fez com ela ao abandoná-la
para se tornar nobre na Europa. “Como assim, mãe?”, pergunta Geese, sem
entender o que ela quis lhe dizer. “Filho, quem dera, ele... ele... tivesse
ficado conosco aqui... aqui... em Southtown... Aqui, onde ele... ele... se
sentia em... em... ca... casa... Ah, o caminho não seguido”, diz Maria,
tossindo muito e já muito debilitada.
“Geese,
tenho, tenho... cert... certeza... que você... você... se... se... será.. um...
um... grande... guerreiro... o meu... meu... org... orgulho. Mas, por... por...
favor... não deixe... deixe... que... que... ódio... te... te... cons..
consuma...”, ela completa. Após ela dizer estas palavras, Maria perde a
consciência e horas depois deixa este mundo. Geese à época tinha 12 anos de
idade, e ficou desconsolado com a morte da mãe. Por horas, chorou sobre o corpo
inerte dela, antes de ser levado ao velório.
Maria Howard
foi enterrada no Cemitério Central de Southtown, situado em uma área não muito
do distante do local no qual os torneios The
King of Fighters tiveram lugar anos antes. Pouco antes de ir à Europa,
Geese jurou perante o túmulo de sua mãe que iria vingá-la, por todo o mal que o
Herr (senhor, lorde) Rudolf Krauser Graf von Stroheim lhe fez ao abandoná-la.
Após uma pesquisa com a ajuda de um detetive, Geese descobriu o paradeiro de
seu pai. Foi descoberto que ele virou um nobre na Europa, e ainda por cima o
chefe de uma das casas mais influentes da nobreza europeia, os Stroheim.
FIM DO FLASHBACK
Geese encara
o pai nos olhos. Rudolf rapidamente reconhece o filho, que ele não vê faz
vários anos, desde que ele ainda tinha seis anos de idade. O loiro parte para
cima do próprio pai, e este parece não reagir diante do ataque furioso do
filho. Mas, na hora H, eis que Wolfgang intervém e protege o pai de ser
golpeado por Geese. Ele golpeia Geese fortemente pelo braço direito e ainda por
cima pega o punhal para si mesmo.
Essa é a
primeira vez que os meio-irmãos Geese Howard e Wolfgang Krauser se encontram na
vida. E o primeiro encontro entre os dois meio-irmãos, como vemos, não é nada
amigável.
“Como você se
atreve, vir até aqui para matar o meu pai? Quanto atrevimento da tua parte,
hein? Aqui não é lugar que você possa frequentar, sabia?”, diz Krauser enquanto
espanca impiedosamente Geese. “Há, quer dizer, o nosso pai, Wolfgang?”,
pergunta Geese. Ao saber que Geese na verdade é irmão dele, Krauser arregala os
olhos por alguns instantes. “Como assim, você é o meu irmão? De onde que você
tirou isso?”, pergunta Wolfgang. “Sabia que o teu pai, abandonou a minha mãe
para poder se casar com a tua?!”. A ficha ainda não caiu para Wolfgang, e ele
continua a espancar que Geese cruelmente, ainda achando tratar-se de um
mentiroso compulsivo.
Tudo indica que Krauser irá matar o meio-irmão, quando eis que o senhor Rudolf intervêm e impede que o pior aconteça. “Wolfgang meu filho, pare com isso! Agora!”, diz Rudolf. Ante a ordem do pai, Wolfgang, a contragosto, para de violentar o meio-irmão. “Tudo bem contigo, Geese?”, pergunta Rudolf ao filho mais velho caído no chão. Geese aceita a ajuda do pai, e este acompanha o filho até o portão de entrada do castelo e providencia tudo para que ele volte em segurança aos Estados Unidos.
NOTA:
[1] No
jargão militar, expressão que significa uma vitória obtida a um preço muito
alto, tão alto que soa como se fosse uma derrota. A expressão alude ao rei
Pirro de Épiro (r. 297 – 272 a. C.), que venceu os romanos a um custo muito
elevado nas batalhas de Heracléia (280 antes de Cristo) e Ásculo (279 a. C.),
durante a Guerra Pírrica (280 – 275 a. C.).
1 Comentários
A conta chega...Sempre chega...
ResponderExcluirÉ engano pensar que erros passados não tenham consequências no futuro.
Os meios irmãos,filhos de Rudolf, iniciam a sua sanha de vingança .
Quem ficará de pé?