Capítulo X - Quando o herói vive o bastante para se tornar um vilão (parte II)
Questão de
tempo foi Rudolf ficar sabendo que ele, dentro de alguns meses, será pai de
mais uma criança. E não se trata de uma criança qualquer: é o herdeiro de um
dos clãs mais poderosos do mundo e que ao longo da história exerceu forte
influência política na Europa e regiões circunvizinhas, desde os tempos do
Império Romano. E, para jogar ainda mais lenha na fogueira, a sobrevivência da
família em questão depende dessa criança vindoura. Como vemos, a situação é bem
delicada e o patriarca da família Howard está em uma encruzilhada,
literalmente.
Rudolf ficou
sabendo disso por meio de um enviado especial do clã Stroheim chamado Esteban
Blood. Os Blood é uma família de origem espanhola que desde os tempos em que os
Habsburgos reinavam tanto na Espanha quanto na Áustria e no Sacro Império
Romano-Germânico (mais precisamente, desde o século XVI) serve aos Stroheim. O
enviado em questão veio pessoalmente a Southtown, tocou a campainha da
residência de Rudolf. Rudolf atende a campainha. O enviado se apresenta a
Rudolf e quer conversar em particular com ele, alegando ter uma notícia muito
importante a contar a ele. Terminada a conversa com o enviado, Rudolf ficou a
par de tudo.
Ao saber que
vai ser pai mais uma vez (só que de outra mulher), Rudolf não sabe o que fazer.
Se deve ou não ficar com a família que ele mesmo constituiu nos Estados Unidos,
ou ir à Europa e lá constituir uma nova família. Mas, sabendo que se trata de
uma família da nobreza europeia, ele vislumbra uma oportunidade de ascender
socialmente. Assim, as dúvidas que povoavam a cabeça dele começam a se
dissipar.
Tão logo soube
que vai ser pai mais uma vez e alegando à família que irá a Europa se inscrever
para um torneio de artes marciais, Rudolf foi ao Velho Continente acertar a
situação dele. Para isso, terá que ter uma audiência com o atual Grão-Conde de
Stroheim, Michael Krauser Graf von Stroheim.
Se dependesse
apenas de Rudolf, ele continuaria levando a vida dupla dele ad aeternum. Continuaria vivendo nos
Estados Unidos com sua família ao mesmo tempo em que periodicamente visitaria
Elza na Europa para ver o filho mais novo dele. E se há algo que Rudolf gosta
muito é de levar uma vida dupla e toda a aventura que este tipo de vida envolve.
Mas o velho Michael está decidido a cortar as asinhas de Rudolf. Ele sabe, por
exemplo, que Rudolf tem esposa e filho na América. E não só isso: também sabe a
respeito do passado dele como membro da Schwarze
Totenkopf e do envolvimento dele em atentados que inclusive vitimaram
membros do clã Stroheim.
Para ele, é
inadmissível que o pai daquele que um dia será o herdeiro do clã Stroheim seja
um homem de vida dupla. E assim ele impôs algumas condições para que ele
desposasse a neta dele. E uma delas é que ele se case com Elza. E para que ele
se case com Elza, ele terá que deixar para trás sua família na América. Em
outras palavras, se separar de Maria e deixá-los em uma situação no mínimo
muito complicada. No fim das contas, Rudolf, sem pestanejar, aceitou deixar
para trás a família americana dele e formar uma nova na Europa.
A barganha é
a seguinte: ou Rudolf se casa com Elza e assume a criança que ele mesmo fez, ou
o passado dele como membro da Schwarze
Totenkopf virá à tona ao público. E assim todo o prestígio dele como rei
dos lutadores será reduzido a farelo.
Ao voltar a
Southtown, Rudolf comunicou a Maria sobre a decisão que tomou. E ela não gostou
nem um pouco disso. Uma discussão entre marido e esposa se segue. “Como assim,
Rudolf? E nós, como que vamos ficar?! Vai nos deixar a míngua?!”. Rudolf
responde que não tem outra saída, se não os podres dele do passado virão à
tona. Maria diz que não se importa com o que Rudolf fez ou deixou de fazer
antes de conhecê-lo, e tenta convencê-lo a ficar em Southtown. Em vão, para o
azar dela e de Geese. “Rudolf, por favor, pense melhor, fique conosco aqui em
Southtown! É a coisa certa a se fazer! Não troque o certo pelo duvidoso!”,
implora Maria a Rudolf. “Não tenho outra escolha, Maria”, mais uma vez Rudolf
responde. E assim, Rudolf abandonou Maria e Geese para se juntar a Elza e por
meio do casamento com a beldade germânica se tornar membro do clã Stroheim. Ele
leva todos os seus pertencentes de sua casa em Southtown, incluindo roupas e
medalhas de campeão, guarda-as todas em malas e junto com elas se despede de
Southtown rumo ao castelo Stroheim, situado em uma área banhada pelo lago
Forggensee, próximo à cidade de Füssen, Alemanha Ocidental, Estado da Baviera.
De lá, a fronteira com a Áustria, a Áustria natal de Rudolf, é praticamente que
um pulo.
Maria ficou
muito abalada pelo fato de ter sido abandonada por Rudolf, e o baque que ela
sofreu foi tal que depois disso a saúde dela nunca mais foi a mesma.
Progressivamente, foi perdendo a vitalidade e a beleza que ela até então tinha.
Ainda amando Rudolf, ela tem uma pequena chama de esperança de que ele venha a
se arrepender da escolha que fez e volte a viver com ela e Geese. Já Geese, por
seu turno, passou a abominar com todas as forças o pai pelo que ele fez. Para
Geese, até então o pai dele era como se fosse um verdadeiro herói. O homem ao
qual ele se espelhava e que queria ser quando atingisse a idade adulta. E após
abandonar a mãe, o mesmo Geese passou a odiar e a desprezar o pai todas as suas
forças. No fim das contas, aquele que um dia para Geese era o herói da vida
dele se tornou o mais desprezível e abominável vilão. Em outras palavras,
Rudolf viveu o bastante para se tornar um vilão. Mais precisamente, o vilão da
vida de Geese Howard.
Rudolf se
muda para a Alemanha, e após deixar sua antiga família para trás, ele se casa
com Elza. A cerimônia de casamento deles teve lugar em uma Igreja não muito
distante do castelo Stroheim. Para poder disfarçar a gravidez de Elza, ela
utilizou durante a cerimônia religiosa um vestido mais largo que de costume.
Vestido de
terno preto e gravata, Rudolf foi o primeiro a ir ao altar, na presença do
padre que ministra a cerimônia. Logo em seguida, foi a vez de Elza, trajando um
belo e pomposo vestido branco com mangas compridas e grinalda, subir o altar.
Uma vez o noivo e a noiva juntos, o padre pergunta a Rudolf se ele aceita Elza
como sua única e legítima esposa. Rudolf responde que sim, aceita. E em seguida
o padre faz a mesma pergunta a Elza. E ela também responde que sim. Rudolf
beija Elza e a segura pelos braços. Essa é a deixa para a banda começar a tocar
a marcha nupcial de Felix Mendelssohn Bartholdy (1809 – 1847).
Todos se
emocionam ao ver a união de Rudolf e Elza sendo consagrada. Todos, exceto um: o
velho Michael. Ele aplaude o momento em que a união matrimonial foi selada, mas
apenas por protocolo. “O que foi Michael?”, pergunta a ele o seu velho amigo,
Franz. E ele faz uma confissão ao amigo. “Só estou aceitando este casamento
pela continuidade do meu clã”.
Ao se casar
com Elza, Rudolf se tornou membro da família Stroheim. E tal qual fez quando se
casou com Maria anos antes, Rudolf também adotou o sobrenome da esposa em seu
nome, ao invés de a esposa adotar o sobrenome do marido como se faz de costume.
Assim, ele passou a se chamar Rudolf Krauser Graf von Stroheim.
Cerca de três
meses após a cerimônia de casamento, o filho de Rudolf e Elza nasce. Ele é
batizado de Wolfgang. Wolfgang Krauser Graf von Stroheim. O homem destinado a
um dia dar continuidade ao título e à linhagem do clã Stroheim.
“Ele não é lindo,
Rudolf?”, pergunta Elza ao marido, segurando o filho recém-nascido e o
mostrando ao marido. Rudolf responde que sim, que ele é muito bonito e que ele
trará muitas alegrias à jovem família Stroheim. “Ele será o mais forte
guerreiro que a família Stroheim teve ao longo da história”, ele completa.
Na noite do
mesmo dia em que Wolfgang nasceu, Rudolf, após adormecer, foi mais uma vez
atormentado pelo sonho que teve no dia em que o pai dele e avô paterno de
Wolfgang e Geese, Otto von Zanac, se despediu da família para ir lutar no front
oriental.
SONHO
Rudolf está
na sala de um castelo, e vê duas pessoas em um castelo prestes a se
confrontarem. Ele, por seu turno, não pode interagir com ninguém, apenas
observar o combate vindouro. O motivo da luta? Não há como Rudolf saber, já que
ele, mais uma vez, é incapaz de ouvir as vozes das pessoas ao seu redor.
De um lado
está um jovem sem barba, nem bigode e cabelos roxos, e de outro um homem de
certa idade, com bigode e rugas na face e cabelos parcialmente grisalhos. A
luta começa e rapidamente o jovem vence de forma acachapante, com três golpes
rápidos e concisos. O jovem olha para o velho vencido, com indiferença e vazio
nos olhos.
FIM DO SONHO
Ao acordar,
Elza, enquanto amamenta o filho recém-nascido, vê o marido, ainda sentado na
cama, pensativo. Curiosa, ela pergunta se há algum problema com o marido. E ele
abre o jogo. Ele mais uma vez, depois de muito tempo, sonhou que estava em um
castelo vendo duas pessoas lutando. E que não é a primeira vez que teve esse
sonho. Ele conta à esposa que teve esse mesmo sonho quando completou 16 anos,
bem no mesmo dia em que o pai dele saiu de casa para lutar no front oriental na
Segunda Guerra Mundial. “Aquela foi a última vez que vi o meu pai”, diz Rudolf
à esposa.
“O que será que isso significa Elza? Por que será que eu voltei a sonhar com aquilo?”, indaga Rudolf. “Isso deve ser coisa da tua cabeça. Talvez, uma simples coincidência”, Elza responde. “Assim espero”, Rudolf responde. Mas afinal, o que será que esse sonho significa? Será uma visão do futuro, ou uma mera bizarrice? Talvez, apenas o tempo saberá responder à pergunta que está no ar.
1 Comentários
A malandragem engoliu o malandro
ResponderExcluirRudolph teve que fazer uma escolha....
Pra ele ,até que boa ...
Mas para o filho rejeitado nos Estados Unidos...