Bom dia, boa tarde, boa noite a quem está lendo.
Um momento muito difícil em minha vida fez com que eu abdicasse de quase tudo o que eu gostava.
Mas finalmente, depois de algum tempo, voltei a fazer, aos poucos.
Peço que, quem quiser saber, me avise. Conversaremos em privado. É algo que eu não quero externar.
Abaixo está o resultado do que eu tenho feito, que é escrever. Espero que gostem.
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14. Uma paz merecida
Eri ficou olhando para aquela menina, que em pouco tempo havia descoberto que aquela não era sua forma original, e decidiu acatar o pedido dela, assumindo sua forma original. Era uma mulher asiática, com cerca de 25 anos, cabelos longos e negros, assim como seus olhos também assumiam a mesma cor.
Sua linguagem corporal era de alguém muito sedutor por natureza, quase que com uma graça felina.
- Satisfeita, Arisa? - Perguntou Eri.
- A palavra é aliviada. Obrigada.
- Agora vamos ao meu escritório. Precisamos conversar, eu preciso te conhecer, entender como você derrotou o Kenta. - E então Arisa já entendera que estivera sendo monitorada a todo tempo não apenas por Crecentia.
Acompanhou Eri até o escritório dela, usando um guarda-chuva transparente que tinha comprado na cidade de Keisuke... Enquanto a Shapeshifter usava um preto, discreto.
Eri e Arisa andavam calmamente em direção ao escritório da primeira, enquanto a segunda observava a primeira com certo desconforto. Eri percebeu os olhares de Arisa e manteve os comentários para si, enquanto as duas caminhavam basicamente de maneira automática. As ruas de Crossraine eram todas cobertas por lajotas, encaixadas na terra e organizadas conforme seu padrão.
O escritório de Eri era algo simples, de linhas retas, construído apenas para ser funcional. Mas aquela era apenas a fachada, Arisa esperava o que viria pela frente assim que adentrasse o mesmo.
Por isso mesmo Arisa não se surpreendeu quando entrou no escritório de Eri; A recepção seguia a mesma decoração da fachada, sendo simples e funcional. Porém, quando as duas passaram pelo portal da sala de Eri, a decoração mudou da água para o vinho.
A sala tinha uma decoração antiga e pesada. Vários móveis de madeiras nobres e de entalhamento intrincado faziam parte da primeira vista da decoração. Aos poucos em que Arisa se acostumava com aquele excesso de informação, ela foi vendo mais detalhes.
Vasos pequenos intrincados e com decoração extremamente detalhada foram se descortinando aos seus olhos. Outras estatuetas em bronze, algumas do tamanho de um dedo indicador; outras, do tamanho de um antebraço. Mas o que deixou a menina extremamente surpresa foi o nível de detalhes com que elas foram esculpidas.
A partir dali, Arisa começou a perceber o quão detalhista aquela pessoa que estava à sua frente era. Eram centenas de pequenas peças que aquela sala formava. Era fácil perceber que as peças angariadas ali formavam um quebra-cabeças intrincado, mostrando parte da própria personalidade de sua anfitriã.
- Vamos, sente-se. Já disse que é uma honra ter você aqui. – Disse Eri com um olhar perscrutante.
Arisa se sentou, olhando para todos os gestos de sua anfitriã. Sabia que aquela mulher era uma pessoa de quem ela não deveria retirar o olhar. Quando a pequena se sentou, Eri se sentou na cadeira oposta, apoiando seus cotovelos na mesa.
- Vamos, pergunte o que você quer saber de mim. - Disse Arisa, direta ao ponto.
- Ora, não vamos começar nem com as preliminares? - Disse Eri, com o tom de voz mais sensual que Arisa já havia ouvido.
- Não me venha com um jargão sensual! Você sabe o porquê estou aqui e você sabe também que tipo de informação eu espero de você. - Disse Arisa de maneira direta, pontuada, quase com um quê de nervosismo.
- Chata... - Respondeu Eri com claro tom de desapontamento.
- Pode me chamar do que quiser, percebo um perigo em cada uma das palavras que você tem dirigido a mim desde que eu cheguei aqui. A partir de uma certa cidade, eu só encontrei pessoas violentas, dissimuladas, e que querem acabar com as outras pessoas só por bel prazer. Se a partir de agora você me mostrar que é diferente do que eu já encontrei até então, passarei a trocar o meu tom de voz com você.
Eri se surpreendeu com um tom de voz firme que Arisa utilizou para se dirigir a ela. Agora ela entendia, pelo menos em parte, o porquê que Keisuke havia se afeiçoado tanto à menina. Ela não se deixava levar por aparências e as tentativas de amenizar a situação só tinham piorado tudo. Aquela menina era verdadeira, e gostava que aqueles com quem ela conversava fossem da mesma maneira. Até mesmo fazia lembrar Keisuke enquanto ela estava na academia.
- Se eu soubesse que iria lhe dar com uma versão feminina do mestre, com toda a certeza eu teria entrado com um discurso diferente. Então, podemos começar de novo?
- Muito obrigada, Eri. Você deve saber o que enfrentei quando pousei em Torphal. Sabe o quanto Kenta não é fácil. E parece que despertei o lado ruim dele.
- Qualquer um consegue despertar o lado ruim dele, Arisa. Não precisa se sentir privilegiada. Aquele lá é um pavio curto, qualquer faísca que chegar perto dele ele se sente incomodado. Até eu mesma já sofri nas mãos dele, mas não fiz o que você fez, tampouco devolvi tão rápido o que ele fez comigo.
Arisa estava genuinamente curiosa. O que Kenta teria feito para ela? Foi o que ela decidiu perguntar no momento seguinte, e ela seguiu com uma resposta surpreendente.
- Provavelmente você não saiba, mas eu já fui cadete de Kenta.
Arisa se surpreendeu genuinamente. Seus olhos arregalaram mais rápido do que ela pudesse travar uma reação, e Eri sabia que havia acertado na veia curiosa da menina. Sem perguntar por mais nada, continuou contando a história.
Arisa ficou sabendo, naquele momento, que não era exclusividade dela o tratamento que ela recebera de Kenta. Ele era intensamente misógino, tratava as mulheres como posses, quando não como brinquedo, quebrando as mentes de algumas no processo. A primeira mulher a humilhar Kenta foi a própria Eri, depois de mais de 5 anos sob o julgo dele.
E nem havia sido nada demais; ela apenas havia falado a verdade em relação a uma situação em específico, em que ele havia sido misógino - mais uma vez - e ela apenas pontuou isso para todas as outras meninas que faziam parte do esquadrão. Ele odiou essa resposta e passou a tratá-la como se fosse um inimigo.
- Ainda mais depois que ele se aliou a Lars Hanietski, mesmo que ele fosse um técnico, profissão extremamente rara no mundo, ele era uma das piores pessoas a quem eu já tive o desprazer de conhecer.
- Agora eu entendo o porquê ele me atacou sem eu ter feito nada - eu fiz com que Lars fosse preso por tudo de ruim que ele fez em New Píer, onde ele havia se enfurnado para se tornar algo maior do que um Deus! - Aquela afirmação fez com que não só Arisa percebesse rapidamente o que havia acontecido, mas feito com que Eri entendesse o porquê de tanto ódio relacionado de Kenta a Arisa.
- Então sofremos pela mesma pessoa, embora por momentos diferentes, com respostas diferentes. Você entende melhor do que ninguém o que eu passei nas mãos de Kenta. E olha eu tratando você de maneira igual a todo mundo! Você não é todo mundo! Você é uma pessoa que pode me ajudar a vencer um trauma! - E Arisa percebeu que Eri não falava mais do jeito empolado de antes: ela já estava à beira das lágrimas. Havia encontrado uma pessoa que poderia ajudá-la a vencer todo um trauma que havia sofrido na mão daquele crápula que liderava a cidade de Torphal.
- Foi bom então recomeçarmos - Constatou Arisa - conseguimos entender que somos mais parecidas do que entendemos antes. Sabe o que eu fiz para vencer o Kenta? - Perguntou Arisa de maneira direta.
- Sim, mestre Keisuke mandou um relatório com tudo o que aconteceu em Torphal, explicando tudo o que você fez e de que maneira você se vingou de Kenta. Você conseguiu atacar nele onde mais dói: no orgulho dele.
- Mas o que você talvez não saiba é que eu tive que treinar por 1 ano e meio com Keisuke para amadurecer como combatente e como piloto, porque se eu tivesse enfrentado Kenta do jeito que eu estava antes, eu teria sido presa e morta. Não teria tido a chance de sofrer como você sofreu.
Eri ficou assustada. Kenta não se ofendera tanto com ela mesma do que como se ofendera com Arisa. Com ela, o crápula simplesmente a manteve presa, a humilhando de todas as maneiras possíveis, mas pelo menos a manteve viva. Arisa não teria nem essa chance, porque foi solicitado a ele que se livrasse dela.
- Foi só com treinamento? - Perguntou infantilmente Eri.
- Isso mesmo - Respondeu Arisa - Se eu não tivesse me forçado a amadurecer durante o treinamento, tenha toda a certeza que eu não estaria aqui para contar a história.
- Uma pergunta - Começou Eri - Você vai ficar aqui em Crossraine por quanto tempo?
- O quanto eu achar necessário - Respondeu Arisa - Porque não só vim buscar a informação sobre a doutora Orinori, mas também para ajudar pessoas que precisam de ajuda.
Eri olhou para aquela menina como se ela não fosse daquele mundo. Por mais que ela realmente não o fosse, ela era diferente de todos os humanos a quem ela tinha conhecido. Era firme, dedicada, e gostava de ajudar os outros, que era muito mais do que várias pessoas a quem ela conhecia.
As duas passaram a conversar amenidades, tentando verdadeiramente conhecer uma à outra e ver de que maneira uma poderia ajudar a outra. Passaram várias horas conversando, e contando uma à outra histórias de si mesmas, tornando-se amigas no processo. Por mais torto que tivesse começado esse relacionamento, bastou que as duas conversassem por cinco minutos e elas tinham diminuído a diferença delas a zero.
Como shapeshifter, Eri havia se especializado na área da espionagem, conhecendo muito do submundo de vários lugares naquele mundo, e se tornando mais dura do que a maioria das pessoas na mesma profissão. Já Arisa, diferente de todos os Técnicos que haviam naquele mundo, ela ganhou um treinamento militar, se tornando mais forte do que todos os outros juntos. E conversando com Eri, Ela foi aprendendo muito mais coisas, como lidar como pessoas iguais a Lars, hedonistas e narcisistas.
Crossraine era uma cidade muito bonita, algumas casas feitas de maneiras bem simples, enquanto outras eram bastante suntuosas. Era possível ver a diferença das portas dos seus donos apenas pelos seus adornos externos; Mas às duas isso não parecia importar; Elas caminhavam pelas ruas, observavam a paisagem e uma pontuava a outra a sua opinião.
A única coisa chata naquele lugar é que chovia direto. Era também por isso que aquele lugar se chamava Crossraine. Era um cruzamento entre duas estradas que levavam para 2 caminhos diferentes, um deles levava para Shining Future, e o outro levava para uma cidade que Arisa sequer conhecia ou ouvira falar.
E, naquele momento, o nome sequer a interessava.
Depois de uma semana naquele lugar, Arisa já havia se acostumado com os trejeitos de Eri, e do jeito despojado da garota. Já Eri gostou muito do jeito despachado da menina mais nova, e do jeito com que ela conseguia fazer amizades de maneira tão risivelmente fácil. A Técnica também já havia conseguido uma clientela gigante na cidade, consertando vários aparelhos que não viam um Técnico há muito tempo; Com sua personalidade cativante ganhou vários fãs naquele lugar.
Nem parecia que ela estava viajando para um lugar tão distante.
Em um determinado dia Arisa decidiu partir, determinada a continuar em seu caminho. Por mais que ela tivesse gostado muito de Eri, ela sabia que tinha que continuar o seu caminho e voltar para casa, mesmo que fosse por pouco tempo, para deixar seus pais em paz. E fez questão de fazer com que Eri soubesse, deixando a primeira triste.
Triste, é verdade, mas não menos contente de ter aprendido tanto com aquela menina.
- Eri, qual é o próximo a cidade depois de Crossraine?
- É a cidade de Qaira, que fica dentro de um deserto. O lugar é muito seco (obviamente), mas as pessoas são bastante amáveis e eu acho que você vai gostar do lugar, mais por causa das pessoas.
Por mais um dia a menina passou estudando os mapas que a levariam à Qaira, hábito que ela adquiriu depois que passou o que passou nas mãos de Kenta. Viu todas as rotas por terra, água e ar, vendo alternativas que ela poderia utilizar em caso de problemas. Ela pode ter ficado um pouco mais aflita por viajar por ar, mas isso fez dela mais cuidadosa.
E, assim que ela finalizou seus estudos dos mapas que Eri havia emprestado a ela, Arisa partiu, deixando uma multidão enorme para trás, rumo à última cidade antes de Shining Future, a cidade da doutora Orinori.
2 Comentários
O encontro de Eiri com Arisa, a princípio, um tanto quanto frio e formal , ao menos até aqui, se tornou uma relação de amizade.
ResponderExcluirEscaldada pelas recentes traições, a jovem Arisa se mostra mais na defensiva.
Sinal de prudência e amadurecimento.
Esse é o grande lance dessa deliciosa narrativa!
Acompanhar a evolução de Arisa durante a sua jornada tem sido uma experiência agradável.
Meus parabéns !
Excelente capítulo!
Obrigado pelo comentário. Isso significa muito pra mim.
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