Depois de tanto tempo, finalmente temos um novo episódio da aventura do nosso herói Spectrum-EX. Temos aqui na verdade a penúltima parte da "Busca de Miriam".
Miriam, pra mim, é uma personagem importante para o universo do Spectrum, que merecia ser valorizada e até igualada a ele. Fiz então uma pausa na história principal para contar a jornada de Miriam para encontrar seu amado Miguel. Nessa busca, mais do que achar Miguel, ela faz novas amigas muito especiais, desvenda os mistérios de Spectrum-EX e vai ela mesma se tornando uma heroína.
A mesmo tempo temos a vingança do Rato contra os maus tratos que sofreu no passado.
Nessa parte estamos a um passo do encontro de Miriam e Miguel.
Jeremias Alves Pires - O Autor
Sinopse:
Miriam e as garotas do Blogger Aberração, na busca por Spectrum-EX, acabam no meio da vingança de um demônio zumbi, o terrível "Rato".
TEXTO NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS OU PESSOAS SENSÍVEIS
Parte 13 — A Busca de Miriam parte 6: Batalha dos Mortos
Jarbas, Jarbas… Quem dera as rugas no rosto fossem marcas de sabedoria adquiridas ao longo dos anos. Não, Jarbas havia parado no tempo, congelado na pior versão de seu ser.
Ali naquele lugar, ele havia encontrado sua versão particular do “paraíso”. Podia passar o dia todo sem fazer nada e ainda recebia para isso. Sua função na verdade era ficar em silêncio, guardar os segredos dos pecados imundos cometidos ali, de alguns ele até tinha feito parte e gostava muito disso, como gostava.
Ansiava pelo momento em que poderia causar dor aos outros. Sentia-se poderoso, superior. Nada se comparava a emoção de bater, bater com força, fazendo a carne rasgar, estourar, sangrar.
No começo eram criaturas pequenas, achadas nas ruas. Nunca para cuidar, sempre para lucrar, lucrar alto. O problema é que elas choravam demais, sempre tinha alguém de fora que ouvia.
Antes que tudo pudesse desmoronar, veio a ideia genial, chutar de uma vez os menores e no lugar vieram os maiores, que ficariam não mais que uma noite. Gente que ninguém ligava se sumiam, era comum até. Jarbas podia fazê-los chorar, gritar, sangrar… Tanto quanto tivesse vontade e sempre tinha muita…
Não me cabe falar do divino. Não a mim, sempre relacionado ao obscuro… Mas me pergunto quantas vezes almas focadas no perverso, são convidadas ao arrependimento, a trilhar um novo caminho, até que a paciência dos céus se acaba, e o mal acaba sendo punido muitas vezes pelo próprio mal.
Havia chegado à hora de Jarbas saldar seus débitos, e com muitos juros.
Fazia a ronda normalmente, sem grandes novidades. Pensava nas três gostosas de momentos atrás, quem sabe alguma delas se perdesse na escuridão daqueles corredores. Deu um sorrisinho cheio de lascívia.
— Que merda…— Tomou um susto.
Algo passou correndo por trás dele. Algo familiar. Imediatamente um calafrio percorreu sua espinha e uma gota de suor frio correu pelo seu rosto.
— Quem está aí? — Gritou pras trevas, o silêncio que veio como resposta o acalmou.
Começou a rir de si mesmo. Não gostava de admitir que estivesse ficando velho, mas jogou nisso a culpa da impressão que acabava de ter. Aquele pestinha que roubava comida durante a noite e ouvia segredos, que costumava fazer brincadeiras, como correr no escuro para assustar, não mais existia. Jarbas tinha garantido isso pessoalmente, ele e a balofa da Jurema.
— Só se ele levantasse dos mortos… Hahaha! Arghhh!!! Que porra é essa?
Foi levado ao chão por uma dor terrível, vinda de um pedaço da coxa esquerda, rapidamente arrancado por algo que voltou para escuridão sem ser visto. Instintivamente colocou a mão no ferimento, sem conseguir, no entanto conter o jorrar do sangue que se esvaia.
— Você está mais lento que antes… — Uma voz sussurrou das trevas.
— Quem está aí? — Jarbas quis gritar, mas o medo e a dor já haviam assumido um tamanho grande o bastante para abafar sua voz.
Estava mais escuro que o normal, como se ele tivesse de repente ido parar dentro de uma alma mais perversa que a sua, cujo mal que trazia em si escapasse de seu corpo, tomando tudo, devorando tudo…
— Me deixa em paz… Por favor… — Jarbas implorou, quase chorando enquanto tentava ver seu agressor, apontando com as mãos trêmulas sua lanterna para todo canto, sem conseguir achar ninguém.
A lanterna foi parar no chão, junto com alguns pedaços da pele da garganta de Jarbas e muito mais sangue. Mãos pequenas, mortas-vivas, apanharam a lanterna…
— Lembra de mim? Lembra de quase ter me matado? Lembra do “Rato”? — O anão morto-vivo, apontou a luz da lanterna para o próprio rosto, um rosto maldito, de algo que não deveria existir, que estava sorrindo para Jarbas, ansioso por sua carne.
O Rato havia planejado fazer bem devagar, mas havia muito ódio em seu coração e fome, uma fome difícil de controlar. Partiu pra cima de Jarbas e começou a despedaçá-lo com os próprios dentes. Cada parte arrancada manchava mais e mais as paredes daquele corredor.
Mesmo o ato tendo sido rápido, Jarbas sofreu tanto que diante dos olhos dele, tudo durou uma eternidade.
Quando a porta grande começou a abrir, o Rato voltou a se esconder, levando um pedaço grande de carne na boca.
— Que merda é essa? — Jurema não conseguia acreditar no que estava vendo.
Jarbas já estava morto, seus olhos estavam arregalados enquanto no rosto retorcido o sofrimento terrível de seus últimos momentos estavam eternamente marcados.
— Nada humano ou natural poderiam ter feito isso… Meninas preparem-se para o pior que puderem imaginar! — Bia tocou o “Colar mágico de substituição” no peito, feito por Ana e imediatamente suas roupas foram substituídas por seu uniforme de batalha. As luvas de superforça que ela mesma havia criado, vestiram suas mãos e se ativaram.
— Seja o que for, tem o dom mágico de se camuflar, não consigo sentir sua presença e essa escuridão também não é do nosso mundo… — Ana conjurou suas adagas de luz, que pareciam não conseguir romper o manto de trevas que a cercava.
Miriam tremia feito vara verde, quando Bia chamou sua atenção:
— Não tá esquecendo de nada não?
— Ah… Tem razão… — Foi a vez de Miriam tocar o colar de substituição. Rapidamente as roupas normais foram trocadas por uma feita pra briga feia, com direito a uma pistola magnum cromada e um facão encantado, já que Miriam tinha percepções mediúnicas, mas não os poderes de Ana e a tecnologia de Bia era difícil demais de ser reproduzida.
O último item a ser materializado para Miriam, foi um óculos balístico especial, feito por Bia. Depois de respirar fundo e mandar parte do medo embora, ela disse às amigas e treinadoras.
— Meu visor também não está detectando nada… — Miriam sacou a pistola, pronta pra acabar com qualquer coisa que resolvesse cruzar seu caminho.
— Mais que merda… Quem são vocês? — Jurema estava ainda mais perdida.
— Sua chance de sobreviver, fica atrás da gente! — Miriam ordenou.
— Olha, as meninas são super-heroias… — Disse um dos moradores de rua que logo se aglomeraram.
— Gente… Sem tumulto! — Bia tentou assumir o controle.
— Me deixa ver ele de perto… Eu já fui enfermeiro, sabiam?
Num gesto de boa vontade, um dos moradores se agachou e começou a examinar o corpo de Jarbas.
— É… Esse tá mortinho da silva mesmo… — Disse o dito socorrista.
— Não… Fica longe dele!!! — Ana gritou, tendo seus sentidos mágicos detectado tardiamente um grande perigo.
O agora Jarbas-Zumbi atacou seu socorrista, mordendo-lhe a bochecha esquerda e arrancando-a.
— Filho da puta! — Miriam atirou no peito do zumbi, jogando-o longe, tamanha a força do disparo.
— Calma galera!!! — Bia tentou de novo impor ordem, mas foi inútil, todos saíram correndo se espalhando e sumindo na escuridão, até mesmo Jurema, que apesar do corpo obeso, pareceu ter se tornado uma verdadeira atleta.
— Mas que merda… — Reclamou Miriam.
— Se liga, menina! — Ana lançou uma de suas adagas de luz, que passou muito perto do rosto de Miriam.
— Ficou doida… Eita peste… — Miram percebeu que Ana havia acertado o Zumbi que ela pensava ter abatido no meio da testa, dando um fim real à criatura das trevas.
— Tem que acertar a cabeça, igual nos filmes… — Ana deu uma risadinha sem graça ao avisar a sua aluna.
— Ai… Que dor… — Reclamou aquele que tinha tentando ajudar, agora com um buraco na cara através do qual se podia ver seus dentes.
— Meninas… Fiquem longe dele! — Com um tom de tristeza na voz, Bia ordenou as amigas.
— Mas o que vocês tem? Eu preciso de ajuda… — O homem ferido caiu no chão, começando a ter espasmos violentos.
Por alguns poucos segundos, ninguém fez nada, já que nada podia ser feito, além de ver aquele pobre homem morrer… Foi rápido, mas violento, grotesco, excruciante. O corpo do que partia, fazia sons estranhos, estalos de músculos tornando-se rígidos, como se estivessem expulsando a alma, para outra coisa entrar. Os gritos começaram de dor só começaram a parar quando os olhos passaram a assumir um tom amarelado, tão maléfico como o urro emitido a seguir. O morto-vivo com um buraco na cara estava de pé, estava com fome…
— Me perdoe… — Usando a super força vinda das luvas cibernéticas, Bia socou e arrebentou a cabeça do monstro, num gesto de piedade dolorosa, somado a culpa.
Miriam colocou a mão na boca, contendo o grito de horror que quase escapou, enquanto o som de ossos e carne sendo arrebentados fizeram suas pernas tremerem. “Será que era desse tipo de horror que Miguel tentava me proteger?”, perguntou a si.
— Socorro!!! — Alguém gritou.
Teve início um inferno sonoro. Pedidos de socorro e até preces, sempre terminados por gritos de dor. Conforme os gritos iam diminuindo, podia-se ouvir o mastigar de bocas insanamente famintas, mordendo e rasgando compulsivamente, insaciavelmente.
— Se pelo menos eles não tivessem corrido… — Bia deixou escapar do coração de heroína magoada, frustrada, ciente que logo teria de encarar e fazer o pior.
— O que nós vamos fazer? O que nós vamos fazer? — Miriam estava em pânico.
— Gata, respira! —Ana gentilmente se dirigiu a Miriam — Pra sobreviver, vamos ter que lutar feito loucas…
— Dê preferência ao facão, guarde a munição do revólver. Ataque sem dó. Se você não puder decapitar, desmembre… Entendeu? — Bia deu instruções a Miriam.
Miriam continuava com o olhar perdido, com medo do que estava prestes a pular da escuridão. Foi a vez de Ana falar com ela, do jeito carinhoso que era sua marca:
— Gata… Você queria tanto encontrar Miguel… Você achou a vida maldita que ele leva… Achou as coisas que ele encara… E sinceramente, você é mais do que mulher pra encarar também… Você é um mulherão da porra…
Miriam respirou. Lembrou de Miguel, ainda tinha que achá-lo, cobrar explicações. Não sabia se o treinamento que tinha tido era o suficiente para encarar aquilo, mesmo ele tendo sido tão duro.
— Quer saber de uma coisa? Que se dane… Se é pra morrer, que seja brigando… — Miriam se encheu de atitude, não que o medo a tivesse deixado, mas estava verdadeiramente decidida a lutar.
— Que bom, pois a festa já vai começar… — Bia já estava em pose de luta.
Ainda não era possível ver as criaturas não vivas. Havia apenas o cheiro insuportável do muito sangue derramado, a promessa de uma partida para o outro mundo com todo o sofrimento possível.
Os corredores daquele lugar eram largos o bastante para batalha que estava prestes a ser travada, como se o próprio destino tivesse construído uma pequena arena para entreter os deuses do caos.
Quando vieram, vieram como um cardume de piranhas. Ana fez o primeiro movimento, lançando suas adagas mágicas que giravam rapidamente, exercendo o papel de duas poderosas serras, tendo como alvo as pernas da multidão que se aproximava. O resultado inicial foi talvez a vantagem mais importante para o grupo de guerreiras. Os zumbis de perna amputada foram ao chão derrubando os que vinham atrás deles, causando uma desorganização generalizada, provando a experiência das meninas do “Blogger Aberração”.
— Pra cima deles!!! — Bia começou a esmurrar os monstros, cada soco com a habilidade de uma boxeadora profissional e o poder destrutivo de uma bala de canhão, explodindo os corpos de seus inimigos.
— Vamos matar o morto! — Ana deu um show de manuseio de suas adagas de luz mágicas, tão afiadas que decepava com facilidade os membros e cabeças dos mortos-vivos.
Inspiradas por suas mestras, Miriam mostrou ser uma guerreira nata, que mesmo não tendo as luvas biônicas de Bia, ou o poder das adagas de Ana, estava bem armada com seu facão e pistola, derrubando tantos zumbis quanto suas companheiras. Em certo ponto do combate, chegou a salvar Bia de um ataque pelas costas, fazendo um disparo preciso na cabeça do morto-vivo traiçoeiro.
Pouco a pouco, os zumbis foram sendo abatidos, restando corpos estourados e mutilados por toda parte.
— CHEGA!!! ME MATA LOGO!!! - Um grito interrompeu a batalha que estava quase no fim.
— Jurema? — Miriam reconheceu o grito.
O horror devia ter chego ao final, mas gritos de uma pessoa sendo torturada anunciaram que ainda havia muito mais.
— Parece que vem da cozinha! — Disse Bia.
As guerreiras correram para prestar socorro e encontraram algo que as encheu de repulsa.
— Ué? Já acabaram com meus capangas? Que chato, estava quase acabando! — Disse o pequeno monstro, sujo de sangue, empunhando uma faca de cozinha, tão suja de sangue quanto ele.
— Socorro… — Jurema implorou pela vida, estava com pernas e braços pregados no chão por estacas de ferro e corpo cheio de cortes e pedaços de sua pele faltando.
O que se via ali, não era o ataque de um zumbi, mas o de um psicopata sádico, querendo não matar, mas saborear tanto quanto possível a dor de sua presa.
— Por quê? — Perguntou Miriam enojada.
— É pessoal… Ela e o vigia… Tudo pessoal. O vigia foi rápido, mas ela deu pra aproveitar bastante…. — Respondeu o pequenino zumbi.
— Mas que merda é você? — Foi a vez da Bia perguntar.
— Ué? Ué? Ué? Ué? Não tá vendo? Sou um demônio-zumbi que veio se vingar… Podem me chamar de “Rato”... — O rato fez um corte na barriga de Jurema e rapidamente, sem dar chance de ser impedido, entrou no corpo da mulher imensa, que gritava em profunda agonia.
— Que porra é essa? — Miriam arregalou os olhos.
— Se prepara que tem mais… — Ana disse, deixando claro que sabia o que vinha a seguir.
As estacas que prendiam Jurema foram ao ar, retiradas por magia das trevas e ela se ergueu. com a voz do Rato ela disse:
— Hora de vocês encararem o “Rato-Zord”, Hahahahaha!!!
Rato-Zord partiu primeiro para cima de Miriam, sentido que ela era a mais fraca, tentando agarrar a garota que se salvou dando um mortal para trás. Ana fez vários cortes no monstro e Bia lhe deu vários socos no rosto. Mais forte que os outros mortos-vivos, Rato-Zord não só resistiu como também socou suas atacantes jogando-as longe.
Inteligentemente, Miriam fez vários disparos de magnum na barriga do ser monstruoso, tentando acertar seu “condutor”.
— Miserável! Isso doeu… — Rato-Zord, disse, mostrando que a percepção de Miriam estava certa.
Para contra-atacar, Rato-Zord se jogou sobre Miriam, tentando a esmagar com o corpo enorme. Dessa vez a garota não teve a mesma sorte de antes e se viu debaixo do monstro.
— Corre Ana! O truque da serra… — Ordenou preocupada Bia.
— Aguenta aí, gata! Pegamos o desgraçado… — Mais uma vez Ana fez suas lâminas girarem e fez um grande corte nas costas do monstro.
Bia com sua força descomunal abriu o ferimento. Agora exposto, o Rato foi esfaqueado na cabeça por uma das Adagas de Ana. Foi o fim do combate. Bia retirou Miriam debaixo do monstro, salvando sua vida.
— Vencemos? — Disse Miriam ao retomar o fôlego.
— É… Acho que sim, gata! — Ana abraçou Miriam.
— Pois é… Essa foi sua primeira luta sobrenatural, como se sente? — Bia perguntou a Miriam.
— Digamos que a “pressão foi esmagadora”. — Respondeu Miriam.
As garotas riram, aproveitando o momento.
— Ouviram isso? — Ana se arrepiou toda.
— Vem lá de fora… Vamos checar? — Bia, pois a alma em alerta.
Quando saíram do abrigo, as esperanças das três se quebraram ao se deparar com um exército de mortos-vivos.
Continua…
6 Comentários
Excelente texto. Deu pra sentir o drama das personagens tendo de lidar com uma ameaça tão grotesca enquanto tentam proteger umas as outras. Já espero com ansiedade a continuação
ResponderExcluirValeu, meu amigo. Obrigado pelo apoio de sempre.
ExcluirHistórias tendo zumbis raramente dão errado. essa deu super certo. gostei muito da ação e da interação das estrelas da história.
ResponderExcluirparabéns!
Valeu... É realmente difícil escrever sobre um tema tão explorado.
ResponderExcluirUm capítulo tenso.
ResponderExcluirPor mais que seja injustificável, dá para ter empatia pelo Rato.
Ele foi muito judiado pelo Jarbas e pela Jurema.
E a primeira batalha sobrenatural de Miriam foi incrível.
Você narrou muito bem o fato dela vencer seus medos e lutar, sr rindo na pele a luta de Miguel.
Mandou bem demais!
Parabéns!
Valeu amigo. O Rato vem da "Vila da Morte", cujos vilões vem dos nossos muitos problemas sociais.
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