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Super Sentai Spirits - O Pioneiro - Capítulo Único

 
 
PROJETO SUPER SENTAI SPIRITS

Olá, meus amigos da Mindstorm!

Saudações Jirayrideranas! 


Num momento, onde a tokunet, em choque recebeu a notícia que a franquia dos Super Sentais , que completou 50 anos em 2025, irá acabar com o fim da série Number 1 Sentai Gozyuger, ou mudará de nome , abrangendo elementos dos antigos Metal Heroes e até de Kamen Riders da Era Heisei, decidi (a exemplo do que fiz com os projetos DC/Marcel History Legacy e Kamen Rider Legend) decidi criar o projeto Super Sentai Spirits, que terá a mesma premissa dos projetos mencionados.


Ou seja, farei one-shots e mini-sagas falando sobre grandes personagens dos chamados Esquadrões Coloridos que impactaram gerações de fãs.


E pra começar, começarei com "Akaranger, o Pioneiro", falando das memórias de Tsuyoshi Kaijo, o líder dos Gorenger.



Espero que curtam! 


 
 
O Pioneiro 

Cap único 

O Pioneiro.
Capítulo Único 

1,2,3...ligando.

O vento sopra frio nesta noite.

De onde estou, gravando esse humilde testemunho, consigo ver as luzes de Tóquio tremeluzirem à distância, como se fossem pequenas chamas resistindo à escuridão.

Cada uma delas me lembra de algo...,de alguém.

De um momento em que estive entre a vida e a morte, acreditando que o amanhã valia o sacrifício de hoje.

Há marcas que o tempo não apaga. 

Nem as cicatrizes no corpo, nem as feridas na alma. 

Eu me pergunto se os outros também carregam esse peso...

Esse fardo invisível que pressiona os ombros toda vez que alguém me olha como se eu fosse mais do que um homem.
Meu nome é Tsuyoshi Kaijo. 

Para o mundo, sou Akaranger...,o primeiro líder vermelho dos chamados Super Sentais ou...,numa linguagem ocidental, Super Esquadrões.

Dizem que ser o primeiro é uma honra. 

Talvez seja...

Mas ninguém fala sobre o terror que vem com isso...

O medo de não saber se o caminho que você está abrindo levará seus companheiros à vitória ou ao precipício. 
Não havia manual...

Não havia lendas para seguir...

Éramos cinco soldados contra um império de trevas, e tudo o que tínhamos era uma promessa: proteger a Terra, custe o que custar.

Custe o que custar! 

Há anos deixei de vestir o capacete vermelho com frequência. 

O tempo, implacável, levou parte da energia que me movia, mas nunca conseguiu apagar o fogo que queima dentro de mim. 

Ainda posso sentir o peso do uniforme, o cheiro do metal e da fumaça das batalhas, e o eco da voz de meus companheiros, Ao, Ki, Mido e Momo, gritando o nome que mudaria tudo: Gorenger!

Repito essa frase na minha mente e sinto o gosto amargo que ela deixa. 

Quantas vezes quase perdi Akira?

Quantas vezes vi Daita sangrar no chão, sorrindo mesmo assim? 

Peggy, sempre forte, sempre brava, mas vi suas mãos tremerem quando achamos que Kenji não voltaria daquela missão.

Vi o olhar dela. O olhar de quem sabe que pode perder tudo a qualquer momento.

E eu? Eu era o líder. O vermelho. 

A cor da coragem, da paixão, do fogo.

Mas também a cor do sangue. 

Fomos os primeiros.

E, talvez por isso, fomos os que mais sangraram.

Naquela época, ninguém entendia o que significava lutar como um time.

Ninguém acreditava que um grupo de pessoas, com cores diferentes, poderia agir como um só coração. 

Havia dúvida…,havia medo. Até mesmo eu, no início, me perguntei se estávamos prontos.

Lembro da primeira transformação. O momento em que vesti o uniforme vermelho e senti o poder da EAGLE fluir através de mim. 

Não foi como nos filmes...

Não foi glorioso nem épico...Foi aterrorizante!

Porque naquele instante, entendi que não havia mais volta.

Mas o que realmente me assombra não foi vestir o uniforme. Foi o que aconteceu antes.

Ainda vejo as chamas. Ainda ouço os gritos. A base da EAGLE em Kanto, destruída. 

Meus companheiros, amigos, irmãos de armas, mortos nas explosões orquestradas pelo Império das Trevas Negras. 

Lembro de correr pelos corredores em chamas, tentando resgatar quem pudesse. 
Lembro do cheiro de fumaça, do calor insuportável, do desespero.

Sobrevivemos. Cinco de nós. Apenas cinco, em meio a tantos.

Quando o Comandante Gonpachi Edogawa nos reuniu e apresentou os trajes Gorenger, olhei para os outros quatro sobreviventes e vi o mesmo nos olhos deles: dor, raiva, e uma determinação inabalável de fazer aquilo significar alguma coisa. 

Não éramos apenas soldados. Éramos os últimos. Os escolhidos pela tragédia para portar algo maior que nós mesmos.

"Vocês são a última linha de defesa da humanidade," o Comandante disse. "Mas também são a primeira de algo novo."

Tsuyoshi Kaijo, o soldado comum, havia morrido naquele dia. O que restava era Akaranger, um símbolo, uma responsabilidade, uma promessa viva.

Se há alguém que compreende o peso da liderança tanto quanto eu, é Akira Shinmei, o Aoranger. 

Meu braço direito. Meu irmão....

Akira sempre foi um estrategista nato. 

Enquanto eu liderava com o coração, ele pensava com a cabeça. 

Quantas vezes suas análises frias e precisas nos salvaram de armadilhas mortais?

Quantas vezes sua capacidade de ler o campo de batalha transformou uma derrota certa em vitória?

Mas lembro de uma noite específica. Tínhamos acabado de perder uma batalha importante.

 O Império havia destruído uma instalação de pesquisa antes que pudéssemos impedi-los. Civis morreram. 

Eu estava no quarto, socando a parede, quando Akira entrou.

Ele não disse nada. Apenas ficou lá, encostado na porta, esperando.

"Eu falhei com eles, Akira," eu disse, a voz quebrando. "Eu deveria ter sido mais rápido. Deveria ter previsto..."

"Tsuyoshi," ele me interrompeu, usando meu nome de verdade, algo que raramente fazia em missão. 

"Você não é Deus. Você é humano. E é exatamente por isso que eles confiam em você."

Olhei para ele, confuso.

"Os deuses não sangram. Não sentem dor. Não erram." 

Akira se aproximou e colocou a mão no meu ombro. 

"Mas você sim. E mesmo assim, toda manhã, você se levanta e veste aquele uniforme vermelho.Não porque é perfeito, mas porque se importa. E é por isso que eu te sigo. Não sigo um líder infalível. Sigo um homem que luta com tudo que tem, mesmo sabendo que pode não ser suficiente."

Naquela noite, percebi que liderança não era sobre nunca cair. 

Era sobre se levantar, sempre, e fazer com que os outros acreditassem que valia a pena se levantar também.

Akira me ensinou isso. E por isso, serei eternamente grato.

Falemos de Daita. Meu querido e teimoso Kiranger amarelo.

Se alguém me dissesse que um dos guerreiros mais bravos que conheci seria um homem rechonchudo que adora curry e faz piadas no meio das batalhas, eu teria rido.

Mas Daita provou, vez após vez, que coragem não tem nada a ver com aparência física.

Lembro de uma missão particularmente brutal. 

Estávamos encurralados, sem munição, feridos. 

Um monstro do Império tinha Peggy e Kenji presos. Akira e eu estávamos no chão, mal conseguindo nos mover. Era o fim.

E então Daita se levantou.

"Ei, aberração feia!" ele gritou, atraindo a atenção do monstro. "Aposto que você nunca experimentou o verdadeiro poder do curry japonês!"

Mesmo naquele momento, ele fez piada. Mas seus olhos... seus olhos estavam sérios. Determinados.

Ele se jogou contra o monstro sozinho. 

Levou golpes brutais, mas não recuou. 

Continuou lutando, gritando, socando, chutando. Comprou tempo suficiente para que nos recuperássemos e contra-atacássemos juntos.

Depois da batalha, quando eu estava enfaixando seus ferimentos, ele sorriu para mim — aquele sorriso enorme e genuíno.

"Líder, você acha que ficará uma cicatriz legal? As garotas gostam de cicatrizes, né?"

Eu ri. 

Mas por dentro, meu coração doía. P

orque sabia que Daita usava o humor como escudo. Que por trás das piadas havia um homem que tinha tanto medo quanto qualquer um de nós, mas escolhia sorrir para que os outros não perdessem a esperança.

Quando Daita foi substituído por Daigoro Kumano como o segundo Kiranger, senti como se tivesse perdido parte da minha própria alma. Mas entendi: até os guerreiros mais bravos têm seus limites.

E reconhecer isso, admitir quando não pode mais continuar, também é uma forma de coragem.

Daigoro trouxe uma nova energia ao time. Mais jovem, igualmente dedicado, mas com seu próprio estilo. Ver essa transição me fez entender algo importante: o espírito Gorenger era maior que qualquer indivíduo. 

Era uma chama que podia ser passada adiante, queimando com igual intensidade em corações diferentes.

Daita me ensinou que o riso pode ser tão poderoso quanto qualquer arma. 

E que às vezes, fazer os outros sorrirem é a maior forma de heroísmo.

Minhas lembranças se voltam à Peggy, a  Momoranger rosa. 

A única mulher em nossa equipe original.
Quantos subestimaram ela? Quantos inimigos pensaram que por ser mulher, seria o elo fraco?

Todos eles aprenderam, da pior forma, o quão errados estavam.

Peggy foi e é uma das guerreiras mais ferozes que conheci. 

Especialista em bombas e explosivos, habilidosa em combate corpo a corpo, estrategista brilhante.

Mas o que mais me impressionava nela não era sua força física. Era sua força emocional.

Lembro de uma noite depois de uma missão particularmente desgastante. 

Tínhamos salvado uma família, pai, mãe e dois filhos pequenos. 

A menina, não deveria ter mais de seis anos, abraçou Peggy e chorou no ombro dela.

"Obrigada por me salvar, senhora ranger rosa," a menina sussurrou.

Peggy abraçou aquela criança como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. 

Vi lágrimas correrem por seu rosto, algo raro...

Depois que a família partiu, ela ficou parada, olhando para as próprias mãos.

"Tsuyoshi," ela me disse, sem tirar os olhos das mãos. "Estas mãos já mataram. Já destruíram. Já causaram dor."

Aproximei-me dela.

"Mas hoje, essas mesmas mãos salvaram uma vida. Protegeram uma criança. Deram esperança a uma família." 

Ela finalmente olhou para mim, os olhos vermelhos.

 "Às vezes me pergunto... sou guerreira ou assassina? Qual é a diferença?"

"A diferença," eu respondi, colocando minha mão sobre a dela, "é que guerreiros lutam para proteger. Assassinos lutam para destruir. Você luta por amor, Peggy. E isso faz toda a diferença."

Ela assentiu, limpando as lágrimas.

Peggy me ensinou que força e sensibilidade não são opostos. Que uma guerreira pode ser mortal no campo de batalha e gentil com uma criança assustada. 

Que ser mulher não a tornava menos capaz.

Pelo contrário,  a tornava completa de maneiras que nós, homens, às vezes não conseguíamos ser.

Por fim, falo agora de Kenji Asuka. Meu Midoranger verde. O cowboy.

Quando Kenji se juntou a nós, trazendo seu estilo ocidental, suas armas de fogo e aquele chapéu ridículo, confesso que tive dúvidas. 

Ele parecia mais interessado em aventuras e glória do que na missão.

Parecia jovem demais, inexperiente demais, imprudente demais.

Eu estava completamente errado.

Lembro da missão onde Kenji provou seu valor.

Estávamos rastreando um agente do Império que havia roubado dados cruciais da EAGLE. O agente era rápido, escorregadio, sempre um passo à frente. Perdemos ele três vezes.

Na quarta, Kenji pediu para assumir a perseguição sozinho.

"Líder, confie em mim," ele disse, aquele sorriso confiante no rosto.

"Cresci caçando no Novo México. Ninguém escapa de mim."

Contra meu melhor julgamento, concordei.

Kenji rastreou aquele agente por dois dias. Através de montanhas, florestas, terrenos urbanos. Sem descanso, sem desistir. 

Quando finalmente alcançou o inimigo, não o matou.

O capturou vivo, exatamente como eu havia ordenado, para que pudéssemos interrogá-lo.

Quando ele voltou, exausto mas triunfante, entregou-me o agente capturado.

"Como você conseguiu?" perguntei, genuinamente impressionado.

"Cowboys não desistem, líder," ele respondeu, ajeitando o chapéu.

"Aprendemos desde cedo que a caça só termina quando você alcança sua presa ou morre tentando. E eu não tenho planos de morrer tão cedo."

Naquele momento, Kenji deixou de ser "o novato" e se tornou meu irmão.

Confiável. 

Leal. 

Inabalável.

Kenji me ensinou que juventude não significa inexperiência. 

Que entusiasmo não é o mesmo que imprudência.

E que às vezes, um sorriso confiante é exatamente o que uma equipe precisa para acreditar que o impossível é possível.
Mas nem tudo foram vitórias e lições edificantes. 

Houve momentos onde quase perdemos tudo... Onde quase perdemos uns aos outros.

Lembro da armadilha preparada pelo General Temujin

Ele estudou nossas táticas, nossos padrões, nossas fraquezas. E então preparou a emboscada perfeita.

Fomos separados. Um por um, levados para campos de batalha isolados onde enfrentaríamos monstros projetados especificamente para contra-atacar nossas habilidades. 

Eu podia ouvir os gritos dos meus companheiros pelos comunicadores, mas não podia alcançá-los.

Akira enfrentando múltiplos inimigos que anulavam suas estratégias com pura aleatoriedade.

Daita sendo esmagado por um monstro cuja força superava a dele em dez vezes.
Peggy presa em um campo minado onde suas próprias habilidades explosivas eram inúteis.

Kenji desarmado, enfrentando snipers invisíveis.

E eu? Eu lutava contra um monstro que refletia meus próprios ataques de volta para mim. 

Cada golpe que eu dava, recebia de volta, em dobro.

"Você acha que é líder?" a criatura zombou. 

"Você não consegue nem se proteger! Como pode proteger os outros?"

Estava sangrando, quebrado, derrotado. 

Meu corpo gritava para eu desistir. Seria tão fácil apenas... parar.

Mas então, ouvi pelo comunicador. As vozes dos meus companheiros.

"Líder... resista..." Akira, ofegante.

"Não desista... nós confiamos em você..." Peggy, dor evidente na voz.

"Akaranger... volte para nós..." Daita, quase um sussurro.

"Cowboys não morrem, e rangers também não!" Kenji, teimoso até o fim.

E algo dentro de mim se acendeu. 

Não era poder. 

Não era força física. 

Era algo mais profundo

Era a recusa absoluta de deixar meus companheiros morrerem acreditando em mim.

Enfrentando fortíssimas dores no corpo, me levantei,cambaleante, sangrando, mas de pé.

"Você quer saber o que me torna líder?" gritei para o monstro."

“Não é minha força. Não é meu poder. São ELES. Meus companheiros. Minha equipe. Minha FAMÍLIA!"

E então, de alguma forma, sentimos. 
Todos nós... 

Uma conexão. Como se nossos corações batessem em sincronia, mesmo separados por quilômetros.

A energia Gorenger fluiu através de nós. Não éramos mais cinco guerreiros isolados. Éramos um. 

Um time...um espírito!

Rompemos nossas prisões. 

Derrotamos nossos inimigos. 

E nos reunimos, quebrados mas vivos, no centro do campo de batalha.

Nós nos abraçamos. 

Sem palavras. Porque não precisávamos delas.

Naquele momento, entendemos a verdade fundamental do que significava ser Gorenger:

Sozinhos, éramos mortais. Juntos, éramos invencíveis!

Eu seria injusto se não falasse sobre o homem que nos criou, nos guiou, nos moldou.

O Comandante Edogawa era mais que nosso superior. 

Era nosso mentor, nosso pai, nossa bússola moral.

Lembro de todas as vezes em que duvidei de mim mesmo, e ele estava lá com palavras firmes mas gentis. 

"Kaijo, liderança não é sobre ter todas as respostas. É sobre fazer as perguntas certas e confiar em sua equipe para encontrar as respostas juntos."

Lembro de quando questionei uma de suas ordens, uma ordem que colocaria civis em risco para capturar um alvo de alto valor do Império. 

Fui até seu escritório, furioso.

"Comandante, com todo respeito, isso está errado!"

Ele me olhou por um longo momento. Então sorriu.

"Bom. Você passou no teste, Kaijo."

"Teste?"

"Um líder que segue ordens cegamente não é líder. É marionete." 

Ele se levantou e colocou a mão no meu ombro.

"Eu precisava saber se você tinha coragem não apenas para lutar contra o inimigo, mas para questionar até mesmo a mim quando acreditasse que algo estava errado. Nunca perca isso, Akaranger. Nunca."

O Comandante Edogawa me ensinou que verdadeira liderança vem de ter princípios inabaláveis, mesmo quando o mundo inteiro  (até mesmo seus superiores) lhe dizem para comprometê-los.

Não posso deixar também de falar do Império das Trevas Negras. 

Nossos inimigos. 

Aqueles que tentaram escravizar a humanidade.

Enfrentamos tantos generais. 
Tantos monstros. 

Tantas ameaças que pareciam impossíveis de superar. 

O Führer das Trevas Negras, aquela presença maligna que orquestrava tudo nos bastidores.

Mas o que me assombrava não eram os monstros. Eram as pessoas.

Porque o Império não usava apenas força bruta. 

Eles corrompiam. Transformavam humanos em traidores. 

Ofereciam poder, promessas, riquezas. E alguns aceitavam.

Lembro de um agente da EAGLE..., um homem que chamava de amigo e que foi seduzido pelas promessas do Império.

Ele me enfrentou em batalha, os olhos cheios de ganância e ambição.

"Você não entende, Kaijo!" ele gritou enquanto lutávamos. 

"O Império oferece poder verdadeiro! Não essas migalhas que a EAGLE nos dá!"

Tive que detê-lo. Tive que prendê-lo. E enquanto o levavam, ele cuspiu em mim.

"Você é um tolo, Akaranger! Um tolo que luta por pessoas que nem mesmo o conhecem! Por que se sacrificar por eles?”

Olhei para ele, e senti não raiva, mas pena.

"Porque," respondi calmamente, "ao contrário de você, eu entendo que poder verdadeiro não vem de dominar os outros. Vem de protegê-los. E isso não é sacrifício. É propósito."

O Império das Trevas Negras me ensinou que o verdadeiro mal não é a força física. É a corrupção da alma. E que nossa maior vitória não foi destruí-los, mas resistir à tentação de nos tornarmos como eles.

Mas a história não terminou com os Gorengers...

Lembro do dia em que conheci os J.A.K.Q. Dengekitai

Uma nova equipe de heróis, surgindo quando novas ameaças emergiram. 

Eles eram diferentes de nós... 

Quatro guerreiros baseados em cartas de baralho, com tecnologia ainda mais avançada, poderes cibernéticos.

Inicialmente, confesso, senti uma pontada de... o quê? Ciúme? Insegurança? Medo de que fôssemos esquecidos?

Conheci Goro Sakurai, o Spade Ace. Seu líder. 

Um homem jovem, determinado, com o mesmo fogo nos olhos que eu tinha quando vesti o vermelho pela primeira vez.

Estávamos em uma missão conjunta, de uma ameaça que requeria tanto Gorenger quanto J.A.K.Q. 

Durante uma pausa na batalha, Goro se aproximou de mim.

"Akaranger-san," ele disse, com respeito genuíno. 

"Eu... nós todos crescemos ouvindo sobre vocês. Sobre o Gorenger. Vocês são a razão pela qual estamos aqui. A razão pela qual acreditamos que podemos fazer a diferença."

Olhei para ele, surpreendido.

"Quando as pessoas falavam sobre cinco heróis que salvaram o mundo, que lutaram contra o impossível e venceram... isso nos deu esperança. Nos mostrou que pessoas comuns podem se tornar extraordinárias." 

Ele hesitou, então continuou. 

"Eu sei que nunca poderemos ser o que vocês foram. Vocês foram os primeiros. Vocês abriram o caminho. Mas espero... espero que possamos honrar o que vocês começaram."

Algo dentro de mim se quebrou naquele momento. Não de tristeza, mas de compreensão.

Coloquei minha mão no ombro de Goro e sorri.

"Sakurai-san, você não entende. Vocês não precisam ser o que fomos. Precisam ser o que são. Nós lutamos nossas batalhas. Agora é a vez de vocês lutarem as suas." 

Apertei seu ombro com firmeza. "E quando novas ameaças surgirem, quando novos heróis se levantarem, eles olharão para vocês da mesma forma que você olha para nós agora. Esse é o legado. Não é sobre ser o primeiro ou o melhor. É sobre passar a tocha adiante."

Naquela missão, Gorenger e J.A.K.Q. lutaram lado a lado. 

E foi... mágico. Ver nossos estilos diferentes se complementarem. Ver como cada equipe tinha suas forças únicas, suas abordagens distintas. 

Mas no fim, todos nós compartilhávamos o mesmo coração. O mesmo propósito.

Quando a batalha terminou, observei os J.A.K.Q. celebrarem sua vitória. E percebi: não estávamos sendo substituídos. Estávamos sendo honrados. 

Nosso legado não estava morrendo...

Estava se multiplicando!

Nos anos que se seguiram, ouvi sobre outras equipes. Battle Fever J. Denjiman. Sun Vulcan. Goggle V. Dynaman,  Bioman, Changeman...

Cada uma com suas próprias características...

Cada uma enfrentando ameaças únicas. Cada uma trazendo algo novo ao conceito que ajudamos a criar.

Algumas usavam poderes místicos. 

Outras, tecnologia avançada. 

Algumas tinham dinossauros mecânicos. 

Outras, bases espaciais.

Havia equipes com três membros, cinco, seis, até mais.

Um dia, o Comandante Edogawa me chamou para uma reunião na EAGLE.

"Kaijo, você viu o que está acontecendo?" ele perguntou, mostrando-me relatórios de várias equipes Sentai em ação ao redor do mundo.

Eu assenti.

"E o que você pensa sobre isso?"

Fiquei em silêncio por um momento, processando. Então sorri.

"Penso que é exatamente o que deveria acontecer, Comandante. Nós provamos que era possível. Eles estão provando que é sustentável. Cada equipe enfrenta desafios que nunca imaginamos. Cada uma adapta o conceito para suas necessidades específicas. E cada uma... cada uma está salvando vidas."

Edogawa assentiu, satisfeito.

"Você sempre foi sábio além dos seus anos, Kaijo. Líderes menores sentiriam ciúme. Tentariam manter o monopólio da heroísmo. Mas você... você entende."

"Entendo o quê, senhor?"

"Que o heroísmo não é uma competição. É uma corrida de revezamento. E você acabou de passar o bastão com graça e dignidade."

Anos depois, recebi uma carta. 

Era de Shirou Goh, o Red One da equipe Bioman.

A carta dizia:
"Kaijo-san,
Espero que esta carta o encontre bem. 
Sei que provavelmente nunca nos encontraremos pessoalmente, mas senti que precisava escrever.
Meu nome Shirou Goh, e sou o líder da equipe Bioman. 
Usamos poderes baseados em partículas Bio, enfrentamos um império chamado New Empire Gear. 
Nossa tecnologia é incrível, nossa base é um robô gigante, e temos poderes que vocês provavelmente nunca imaginaram possíveis.
Mas tudo isso é irrelevante.
Porque a verdadeira razão pela qual estou aqui, a verdadeira razão pela qual cinco estranhos se tornaram uma família, a verdadeira razão pela qual conseguimos acreditar que poderíamos vencer contra adversidades impossíveis... é por causa de vocês.
É porque , quase dez  anos atrás, cinco pessoas decidiram se levantar quando tudo estava perdido. 
Decidiram lutar quando a derrota parecia certa.
Decidiram acreditar na humanidade quando a humanidade estava prestes a cair.
Vocês não tinham predecessores para olhar. Não tinham exemplos a seguir. Não tinham garantias de sucesso. Mas lutaram mesmo assim.
E por causa disso, agora temos uma história para contar. 
Temos heróis para admirar. 
Temos provas de que cinco pessoas comuns, unidas por um propósito, podem mudar o mundo.
Cada vez que visto meu uniforme vermelho, penso em você. 
Penso no peso que você carregou. 
Penso em todas as noites sem dormir, todas as batalhas impossíveis, todos os momentos de dúvida. E penso: 'Se Akaranger conseguiu, eu também posso.'
Você nunca me conheceu... Provavelmente nunca me conhecerá. 
Mas você me salvou, Kaijo-san. 
Salvou a mim e a incontáveis outros líderes vermelhos que virão depois de mim.
Porque nos mostrou que ser líder não é sobre ser perfeito. 
É sobre se importar o suficiente para tentar, mesmo quando está com medo. 
É sobre se levantar toda manhã e escolher lutar, mesmo quando cada parte do seu corpo grita para desistir. 
É sobre amar sua equipe mais do que ama a si mesmo.
Essas lições não vêm de manuais. 
Vêm de exemplo. E você foi o exemplo definitivo!
Então, obrigado! 
Do fundo do meu coração...
 Obrigado por ser o primeiro. 
Obrigado por nunca desistir. 
Obrigado por provar que era possível.
Espero, um dia, ser metade do líder que você foi.
Com profundo respeito e admiração,
Shirou Goh - Red One, Bioman"

Li aquela carta três vezes. Na terceira, lágrimas corriam pelo meu rosto.

Akira me encontrou assim, segurando a carta com mãos trêmulas.

"Tsuyoshi? O que aconteceu?"

Entreguei-lhe a carta. Ele leu em silêncio. Quando terminou, seus olhos também estavam úmidos.

"Nós fizemos a diferença," ele disse suavemente. "Realmente fizemos."

"Eu tinha medo," confessei. "Medo de que tudo tivesse sido em vão. Medo de que fôssemos esquecidos, de que nossas lutas não significassem nada a longo prazo."

Akira sorriu.

"Tsuyoshi, nós não apenas fizemos diferença. Nós mudamos o mundo. E continuamos mudando, através de cada novo herói que inspira, através de cada nova equipe que se forma, através de cada pessoa que veste um uniforme colorido e decide lutar pelo que é certo."

Ele estava certo. 

E naquele momento, finalmente entendi o verdadeiro significado de legado.

Legado não é sobre ser lembrado. 

É sobre o impacto que você deixa. 

É sobre as vidas que você toca, direta ou indiretamente. 

É sobre plantar árvores cujas sombras você nunca desfrutará.

Nos anos seguintes ao Gorenger, vi o conceito Sentai evoluir de maneiras que nunca imaginei. 

Vi equipes com poderes elementais. 

Vi equipes baseadas em animais pré-históricos...

Os densetsus...

Vi equipes de resgate, equipes policiais, equipes de guerreiros místicos. 

Vi equipes com membros trocados, equipes com rangers extras, equipes que se expandiram além do formato original de cinco.

E cada uma... cada uma carregava um pedaço do que começamos.

O líder vermelho, sempre à frente, sempre guiando.

O estrategista azul, pensando três passos adiante. 
O guerreiro de força, amarelo ou preto, fornecendo poder bruto. 

Os especialistas, em verde, rosa, ou outras cores, cada um com habilidades únicas. 
E acima de tudo, a união.

 A família. 

O entendimento de que juntos são mais fortes do que separados.

Algumas pessoas me perguntam: "Kaijo-san, não fica frustrado vendo outras equipes receberem atenção? Não sente ciúme quando falam das novas tecnologias, dos novos poderes?"

E eu sempre respondo a mesma coisa:

"Um pai não sente ciúme quando seu filho cresce e supera suas conquistas. Ele sente orgulho."

Porque é isso que essas equipes são para mim. 

São filhos dos Gorengers. Não biologicamente, claro. 

Mas espiritualmente. Eles carregam nosso DNA heróico. 

E ver cada um crescer, adaptar, evoluir... isso não me deixa com ciúme.

Deixa-me com esperança.

E essa esperança se converteu em realidade e vivi uma das maiores emoções de minha vida...

Houve um momento, anos atrás, onde várias equipes Sentai se reuniram para enfrentar uma ameaça comum. 

E pela primeira vez, encontrei-me cercado por outros líderes vermelhos.

Change Dragon, Red Falcon, Red One, Red Hawk, Red Racer. Gao Red...

Tantos outros...

Cada um com sua própria história. 

Cada um com suas próprias cicatrizes. 

Cada um tendo carregado o mesmo peso que carreguei.

Estávamos em uma sala de reuniões, planejando estratégias, quando o mais jovem dos líderes, um rapaz que não devia ter mais de vinte anos, me olhou com admiração nos olhos. 

Era como se ele me pedisse autorização para falar.

Eu apenas lhe disse que ele era tão líder vermelho quanto eu e que eu não era em nada melhor do que ele.

Ele sorriu.

Ao detalhar sua estratégia, percebi que o legado não é um fardo...

Se bem conduzido, é algo leve...

Que se integra e se completa...

Hoje, olhando pra trás, posso dizer que sim..., sinto um orgulho...

Não um orgulho presunçoso...

Um orgulho de honra e gratidão...

Ainda que, um dia, os Sentais deixem de existir, nossa história, construída com muito suor, sangue e sacrifício, jamais se apagará...

Que as futuras gerações ouçam esse testemunho...

Obrigado por me escutarem...

Tsuyoshi Kaijo, Akaranger, desligando...




Tsuyoshi Kaijo, Akaranger, líder dos Gorengers












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