Kamen Rider
Peacemaker #4
Vidas quebradas.
“Querido Aruto. Meu filho.
A sensação de vestir a armadura Peacemaker pela
primeira vez foi algo de outro mundo…
Seu avô me levou até seu escritório nas
Industrias Hiden, me prometendo algo que poderia ajudar a lidar com o luto e a
raiva do maldito que havia causado a morte de minha esposa, de ter deixado você
órfão, de ter destruído nossa família.
Fiquei paralisado durante alguns minutos quando
Korenosuke me colocou diante daquela armadura, as especificações que ele foi
listando chegavam como um eco distante aos meus ouvidos.
Era hipnotizante.
As semanas seguintes se tornaram meses e então,
como num borrão de tempo, pouco mais de um ano se passou, conforme eu treinava
corpo e mente para atuar em uníssono com a Peacemaker.
Karin e Hideki foram de importância ímpar nesse
período, com seu apoio eu finalmente estava pronto para embarcar na missão que
havia tomado para mim.
Capturar Shiro Osaka e trazê-lo à justiça pelo
que fez à nossa família.
Fazer do mundo um lugar seguro para você.
Antes de partir, no entanto, meu pai tinha uma
última surpresa.
Ele me apresentou a Soreo Hiden.
O HumaGear que ficaria em meu lugar, cuidando de
você, pelo tempo que fosse necessário eu me afastar para cumprir a missão.
Não foi fácil, mas, por favor, não me considere
frio, insensível ou me odeie...
Tudo o que fiz foi, principalmente, pelo amor
que eu tenho por você... Espero mesmo que, quando essas mensagens te
alcançarem, você possa me perdoar.
De seu pai... O humano... Soreo Hiden,”
XXX
O calor era
escaldante, ainda que a floresta tropical fosse úmida, o que fazia as roupas
ficarem ensopadas de suor e grudadas no corpo, mas, ainda assim, ele sabia que
precisava seguir em frente logo.
Do contrário
estaria morto.
Soreo Hiden
caminhava em meio à mata selvagem de uma floresta da América Latina que ele não
lembrava o nome, do ombro esquerdo um ferimento vertia sangue em abundância, o
que fazia sua visão ficar turva e, em certos momentos, escurecer.
Mas ele
continuava seguindo em frente.
Soreo precisou
se apoiar no tronco de uma árvore para recuperar o fôlego, quando ouviu um
gemido baixo.
Ele se
aproximou devagar e com extremo cuidado, se voltasse a se ferir do modo como
estava, poderia facilmente morrer, mas ele não poderia deixar de prestar
socorro a alguém que precisasse.
Ao dar a volta
em uma árvore de tronco extremamente grosso, ele viu um jovem caído e,
amparando-o da forma mais gentil e rápida possível, percebendo que não havia
nenhum ferimento visível, ele tentou extrair alguma informação que pudesse
ajudá-lo.
- O que
aconteceu? Onde você se feriu?
O jovem já não
conseguia falar, mal estendeu uma das mãos na direção do chão, ao seu lado,
revelando uma seringa abandonada ali perto.
Soreo não
precisou de muitas outras informações para entender o que estava acontecendo.
Logo a overdose
fez o corpo do jovem convulsionar, a boca juntando uma espessa e mal cheirosa
saliva e, sem poder sequer andar direito, quanto menos poder prestar socorro ou
levar o jovem para algum hospital, visto que estavam a horas de qualquer centro
urbano, restou a Soren apenas continuar ao lado dele, conforme a vida ia
deixando seu corpo.
Sem outra
escolha, prometendo que, assim que voltasse à civilização, ele indicaria onde
estava o corpo do rapaz, Soreo se ergueu, cerrou os dentes por causa da dor que
vinha do ferimento e seguiu seu caminho.
Conforme
caminhava com imensa dificuldade, Soreo jurava para si mesmo que faria os
responsáveis por mais aquela morte pagarem.
Ele ia
repassando mentalmente o que dera de errado naquela missão, desde o começo,
quando sua equipe conseguiu rastrear sinais de que o cientista renegado Shiro
Osaka agora estava tentando oferecer seus WarGears para cartéis de drogas na
América Latina.
- Conseguimos
esses dados fácil demais... – como sempre era Karin quem ficava desconfiada
primeiro. – A criptografia dessas mensagens está tão... Amadora...
- Vai ver demos
sorte… - enquanto Hideki tentava ver algo de positivo em toda situação. - O
Osaka pode finalmente ter deixado a arrogância vencer e tá se achando
intocável… Daí começa a cometer esse tipo de erro.
- Não sei não,
mas quem decide é nosso glorioso líder… Soreo?
Alheio às
conversas, Soreo Hiden observava em uma tela holográfica, projetada da espécie
de relógio que ele trazia no pulso direito, imagens de seu filho Aruto
brincando com o HumaGear feito à sua imagem.
Foi o modo como
Soreo e seu pai decidiram que seria melhor para que o pequeno e jovem herdeiro
das Industrias Hiden crescesse sem sentir tanto a falta de seus pais
verdadeiros.
Inconscientemente
Soreo cerrou o punho esquerdo, amaldiçoando novamente em seu interior a
ganância do doutor Osaka, o culpado pelo atentado contra ele e Yoshiro, sua
esposa, bem como a atual caçada pelo mundo, atrás do Mercador da Guerra, como
ele estava sendo chamado.
Tudo isso o
afastou de Aruto, tornando ainda mais difícil sua cruzada em busca de justiça e
de tornar o mundo um lugar seguro para que ele crescesse.
Por isso, assim
que ele desativou a holotela, se voltou para os dois companheiros, que haviam
decidido ajudá-lo e embarcar naquela empreitada, por também terem conhecido e
amado Yoshiro, quase tanto quanto ele.
- Pode até ser
uma armadilha, mas, ainda assim, é melhor não arriscarmos… Já se passaram meses
desde a África e essa é a primeira pista que temos… Acho que devemos entrar o
mais bem preparados que pudermos nessa armadilha, por mais óbvia que seja, daí
tentaremos aproveitar qualquer chance de pegar o Osaka.
- Eu vou
continuar investigando os dados… - conforme falava, Karin já ia se afastando,
conversando mais com ela própria do que com os companheiros. - Vai que tem algo
aí que possa nos ajudar… Vamos ver… Vamos ver…
- Bom… - Hideki
lançou um olhar para a colega que ia se afastando, um olhar que Soreo já
conhecia, mas que preferiu se manter quieto sobre o assunto. - Vou ver como
estão as atualizações do seu escudo e da Harmonizer… Tem certeza de que não
quer armas de ataque?
- Tenho…
Prefiro soluções não letais, lembre-se de que, pelo que descobrimos na África,
temos outros humanos usando armaduras Kamen Rider e eu prefiro desativar os
HumaGears, ou WarGears e mandá-los de volta para o meu pai para
recondicioná-los…
- Não deu muito
certo pro Hapa... Hala… Pro polvo lá…
- Hapalochlaena… Um dos animais mais venenosos
do mundo… E não, não achei nenhum vestígio dele, nem tão pouco da WarKey dele,
por isso prefiro não dar o fim dele como algo certo.
Dando de ombros
Hideki se afastou para dar atenção às atualizações do sistema Peacemaker,
deixando Soreo a sós com seus pensamentos, enquanto o jato especialmente
modificado, para atender às necessidades daquela equipe, ia alterando seu curso
para a América Latina.
- Não tem como
pousar! - Karin, enquanto pilotava a nave, precisava gritar em seu comunicador,
para ser ouvida por seus colegas que estavam diante de uma porta que ia sendo
aberta na parte traseira. - Vai ter que saltar aqui mesmo e depois a gente
tenta chegar até você com o nosso Blindado!
Soreo fez um
sinal positivo com a mão e então saltou.
Foi quando tudo
deu errado.
Pouco depois de
ele abrir seu paraquedas, a alguns metros das copas das árvores mais altas da
floresta, um disparo de energia atingiu-o em pleno ar, rasgando o tecido aberto
atrás de si e causando um imenso ferimento em seu ombro esquerdo.
A queda
violenta acabou por fazer o serviço de deixar Soreo quase inconsciente, assim
que atingiu o chão, após bater em vários galhos, destruindo completamente
muitos deles em seu caminho.
Com um esforço
tremendo ele se ergueu, procurando se afastar o máximo do local da queda, pois
sabia que, quem quer que o tivesse atingido, iria, com certeza, até lá para
terminar o serviço.
Assim que
conseguiu se esconder entre os restos de uma árvore caída, cujo tronco se
encontrava repleto de raízes de outras árvores, bem como centenas de folhas
amontoadas Soreu manteve seu foco no que restara de seu paraquedas, pendurado
entre os galhos, sendo levemente balançados pelo vento.
Excruciantes
minutos depois ele viu duas pessoas trajando armaduras se aproximando
cautelosamente do local da queda.
“Warhammer...”
Soreo cerrou os dentes enquanto descobria a responsável pelo ataque que o atingira
a pouco e, junto de outra figura feminina, com certeza uma nova WarGear, após
uma rápida averiguação, se afastaram para procurá-lo.
Assim que se
viu sozinho, Soreo saiu do esconderijo e se pôs a andar a esmo pela sufocante
floresta tropical, acabando por encontrar uma das vítimas do cartel de drogas
para o qual, segundo as informações recebidas, o doutor Osaka pretendia vender
sua tecnologia maldita.
Ele cambaleou
por um tempo indefinido, sem conseguir contato com sua equipe e quase sem
forças sequer para se transformar, além do receio de denunciar sua posição,
antes de estar pronto para o combate, o que poderia facilitar não apenas a
comunicação, como também a sua recuperação, poderia também facilitar para que
os inimigos o alcanççassem.
Foi quando ele
ouviu sons de lamento, várias pessoas pareciam extremamente assustadas e
falavam ao mesmo tempo, sendo silenciadas pelo que pareceu a mesma rajada que o
atingira.
Warhammer.
Ele seguiu os
sons e se escondeu a tempo de ver o veículo de transporte de seu odiado inimigo
parado diante de um conjunto de casas simples, com várias pessoas amontoadas e
cercadas por homens que empunhavam fuzis de aparência futurista, um “brinde”
que Osaka dera ao líder daquele Cartel, com certeza.
Francisco de La
Cruz ascendera rápido na liderança do grupo de tráfico, graças ao modo
impiedoso com que lidava, não só com os inimigos, mas também com aqueles sob
seu comando.
- Bem, señor
Osaka… - o corpulento homem passou um braço pelo ombro do cientista, que mal
conseguiu disfarçar o asco de tal contato tão intimo. - Como pode ver, temos
aqui uma vila que insiste em não enviar voluntários para trabalhar na minha…
Horta… E olha que eu pago direitinho… Quem trabalha para o De La Cruz, sempre
vive bem…
- Sim… - com
extremo cuidado, para não perder o cliente, o Mercador da Guerra se
desvencilhou do abraço, fazendo uma nota mental de queimar aquela roupa assim
que pudesse, se afastando do chefão do tráfico, estendendo as mãos para que
alguém se aproximasse. - E como pode ver, meus produtos podem te ajudar e
muito…
Conforme Osaka
acenava duas mulheres se aproximaram, seus rostos fora do campo visual de
Soreo, pararam dos lados do cientista.
- Eu lhe
apresento minhas ferramentas… Minhas WarGears…
Uma delas deu
um passo à frente.
“Kamen Rider!” seu cinto ressoou.
- Henshin! -
Soreo pareceu reconhecer a voz rouca da mulher de algum lugar.
“Que a Guerra seja seu destino.”
Várias
explosões ocorreram ao redor da misteriosa mulher e, quando a fumaça resultante
dissipou, Warhammer surgia em toda a sua glória.
Ao seu lado a
outra mulher ia se adiantando.
“Kamen Rider.” era a vez do cinto dela se pronunciar.
- Henshin. -
sua voz era sem vida, monótona, típica dos WarGear criados pelo Doutor Osaka.
“Quando a Phoneutria tece sua teia, as vítimas
encontram a morte certa.”
Um tipo de
aranha armadeira gigante e feita de metal surgiu ao redor da WarGear,
envolveu-a em um casulo e quando ela se libertou sua armadura de Kamen Rider já
estava pronta.
“É...” de seu
esconderijo Soreo Hiden não conseguiu evitar o pensamento negativo “Essa vai
ser muito difícil...”
Ele mal sabia
como estava certo.
Continua.
5 Comentários
Grande Norberto, mais um excelente episódio de PeaceMaker! Realmente parece que Soreo agora está em maus lençóis, ferido, sem poder se transformar e denotar sua posição, diante do tipo de facção das mais cruéis e covardes do mundo, pois descontam suas batalhas nos inocentes e não no combate aos inimigos... Até onde li os cartéis sul americanos são do tipo que matam as pessoas dos vilarejos ou as usam como reféns mas não entram em confronto com quem os caça, por isso tenho essa visão deles... Se Soreo se transformar poderá aniquilar a vila, coisa que ele já demonstrou ser um ponto importante pra ele, preservar vidas inocentes, porém se não se transformar, pode perder a chance de confrontar o inimigo odioso de novo por muito tempo... Fiquei realmente curioso para saber como fizestes Soreo poder dar conta desse pepino à sua frente agora, salvar os aldeões, impedir a fuga do inimigo, vencer um exército extremista e ainda enfrentar duas inimigas que parecem ser "venenosas", digamos assim... Tenso e intenso são dois termos que creio definir melhor essa sua nova empreitada, isso já levando em conta as cartas, pois deixar seu filho nas mãos de uma cópia enquanto ele viaja o mundo atrás de um inimigo é algo no mínimo assustador, do ponto de vista de um pai! Muito bom cara, maravilhoso trabalho, PeaceMaker tá dando gosto de ler, que venha o próximo episódio!
ResponderExcluirAinda importante citar que apesar da ficção, estás retratando algo que é extremamente real pelo mundo à fora e todos sabemos disso... Comercialização de maneiras de matar é um dos grandes negócios atuais da humanidade, seja de forma lícita ou ilícita e apesar de algumas serem aprovadas por leis, todas seguem o mesmo rastro de ganância e falta de empatia, coisa que te enoja e revolta... Acho que escolhestes um tema perfeito para ser abordar e espero, na verdade tenho certeza, que deixarás uma grande mensagem de rechaço à este tipo de atitude com o fim que este mercador FDP terá, ou seja, irás fazer dele um exemplo do que gente desta estirpe merece! Sinceramente muito bom cara, estou realmente satisfeito com a leitura, parabéns!!
PS.: Agora entendi o motivo do "De seu pai... O humano...", simplesmente fabuloso como conseguiste criar emoção até nos detalhes, como sempre, tá de parabéns meu amigo e desculpa a demora na leitura e comentário!
Grande amigo Lanthys. Antes de mais nada nunca se desculpe. Eu agradeço demais o tempo dispensado nas leituras dos meus textos, mas não tem pressa, quando puder apareça e leia. Muito obrigado.
ExcluirQuando pensei no nome pra esse título, que em português ficaria "Pacificador" eu fiquei lembrando das histórias terríveis de pessoas que lucram com a desgraça alheia, que incentivam guerras para garantir seus lucros e pensei em agregar esses seres desprezíveis na figura do meu Mercador de Guerra. Que bom que, pelo visto, estou alcançando sucesso em mostrá-lo como o fdp que eu queria.
Quanto ao lance de deixar o filho, realmente eu, como pai também me vi no lugar do Soreo, eu provavelmente nunca abandonaria minha filha, mas saber que o responsável pela morte da minha esposa estaria livre e espalhando mais morte... Não sei... seria por demais complicado.
E sobre as mensagens, eu precisava fazer um link com a série oficial, kamen rider Zero One, por isso essa parte tão importante no texto, fora o fato de me desafiar a contar, em cada capítulo duas linhas narrativas... gosto de bolar meios diferentes do usual para ver até onde consigo desenvolver um texto. Espero que eu esteja acertando a mão.
Muito, mas muito obrigado mesmo pelo comentário amigo!
Cacilda. Que baita episódio!
ResponderExcluirVocê explora vilões que são reais. Não as batalhas que estamos acostumados. Temos um Rider enfrentando um cartel.... uma facção. Isso faz a ficção ser mais factível. Muito bom, meu irmão.
Você merece escrever um filme.
Não tinha como seguir pelo caminho que escolhi, sem deixar os vilões com uma carga mais realista, por isso, primeiro a guerra na África, e agora essa no cartel sul americano de drogas.
ExcluirOlha que eu adoraria escrever um filme.
Valeu mesmo!
Norberto .
ResponderExcluirApesar da correria e da " insanidade " das postagens de Contos ( kkkkkkkkk) aqui estou e para apreciar essa empolgante obra.
Episódio tenso, que começa com uma revelação na carta a Aruto, muito complicada.
Deixar o filho com um HumanGear , é algo complicado. É preciso saber o que se quer e ter coragem para tal atitude .
Por mais difícil que seja , Soreo tinha um objetivo , um nobre objetivo : Lutar pela paz.
Mas, em plena selva amazônica, é abatido no ar , se ferindo gravemente.
Ao ver seus inimigos de perto , sem poder se transformar para não anunciar sua presença? Peacemaker se vê diante de um dilema.
Como salvar aqueles humildes habitantes da floresta das mãos de um traficante fascínora e violento , aliado a seu maior inimigo?
Eis o dilema.
O medo de Peacemaker de perder preciosas vidas , o paralisa. Esse é o seu ponto fraco .
Me lembra o Demolidor, da Marvvel , que sempre queria resolver as coisas dentro da lei , pelos métodos legais , solução essa nem sempre a mais fácil, diante das açôes violentas do inimigo.
Enredo empolgante!
Espero pra ver como Peacemaker vai sair desta .
Parabéns!